domingo, 17 de maio de 2009

Balanço da empresas revelam futuro do Brasil diante da crise

Saiba o que os balanços das empresas dizem sobre o futuro da crise no Brasil
Empresas divulgaram balanços do 1º trimestre até a semana passada.Veja resultados de algumas das grandes companhias brasileiras.


Ligia Guimarães Do G1, em São Paulo

Empresas de setores que dependem do mercado internacional para fazer negócios sofreram mais com a crise nos três primeiros meses de 2009, e até mudaram o jeito de negociar contratos para não perder clientes.

O desemprego cresceu no período e, com isso, mais contas ficaram atrasadas e os bancos aumentaram os ganhos em ritmo menor do que faziam antes. O consumidor brasileiro, no entanto, não parou de comprar e contratar serviços.

Tais afirmações sobre os efeitos da retração econômica mundial sobre o Brasil foram feitas, a pedido do G1, por analistas que interpretaram o que “dizem” os números dos balanços financeiros relativos ao primeiro trimestre de 2009 divulgados pelas empresas. O prazo de entrega terminou na sexta-feira (15).



Para os especialistas, a principal mensagem que se tira desses números é: o Brasil sente os impactos da crise – que já eram esperados e previstos pelo mercado para chegarem por aqui até antes, no final do ano passado – mas está longe de um panorama tão crítico quanto apresentaram as instituições de países mais diretamente envolvidos na retração econômica mundial, como os europeus e os EUA.
Veja abaixo o que, com base nos balanços, dois analistas consultados pelo G1 disseram sobre os desdobramentos da crise.

Bancos
Na avaliação do sócio da BDO Trevisan, José Luiz Gurgel, a redução do ritmo de ganhos causada pelo aumento da inadimplência foi o principal ponto comum nos resultados trimestrais divulgados pelas instituições financeiras no Brasil.

“Os balanços do trimestre mostraram uma redução do lucro dessas empresas, principalmente em razão do aumento da inadimplência, o que até o final de 2008 não havia sido sentida no Brasil”, diz o especialista.

“Nos bancos, isso aconteceu de uma maneira geral, todos se comportaram com essa tendência”, avalia o economista, que diz que essa expansão da inadimplência já era esperada para o fim do ano passado.
Diante desse cenário, há risco de quebra e problemas mais graves nos bancos brasileiros, nos moldes do que acontece em instituições norte-americanas? O especialista afirma que não.

“Não é nada que seja preocupante e coloque em risco o sistema bancário. É mais uma redução no ritmo de ganhos: a taxa de crescimento dos lucros passa a ser decrescente”, diz.

Mercado internacional
Segundo a chefe da área de análise da Ativa Corretora, Luciana Leocádio, há um padrão de reação à crise entre as empresas que divulgaram os balanços do primeiro trimestre: quanto maior a exposição e dependência que elas têm do mercado internacional para os negócios, mais sentiram o impacto da desaceleração econômica no período.
“Companhias do setor de commodities, que dependem mais do comércio internacional e são voltadas para o mercado externo, acabam ficando mais prejudicados. Podem sentir o impacto ainda no segundo trimestre”, diz a analista.

“Alguns setores estão mostrando sinais claros de desaceleração, como siderurgia e mineração. Usiminas e CSN, por exemplo, tiveram queda nos níveis de venda e preço. A própria Vale aumentou as vendas para a China, mas teve para outros destinos comprometida”, disse.
Outro “sintoma” da crise nos resultados é a da renegociação de contratos para não perder clientes. "Alguns setores foram muito marcados por renegociação de contratos, como a Vale, que foi um caso emblemático", diz Gurgel, da BDO Trevisan.

Os mais fortes
Para Luciana Leocádio, da Ativa Corretora, telefonia, tecnologia e energia elétrica são exemplos de setores que foram menos sensíveis aos efeitos da crise, por serem mais dependentes do mercado doméstico.

"Esses segmentos estão conseguindo mostrar números mais resistentes. São setores que têm muita resistência em relação à desaceleração da economia porque são serviços essenciais", diz a especialista.

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Outro setor que se mostrou surpreendente, para Luciana, foi o de consumo. "Natura, Ambev, Pão de Açúcar, todos mostraram bons resultados", diz.

E o futuro?
Na opinião de Gurgel, da BDO Trevisan, o impacto da crise nos negócios demorou até mais que o esperado para chegar ao Brasil, e vieram menos negativos do que poderiam ser.

"Setores de bens de consumo tiveram bom desempenho, o que mostra confiança do consumidor. Ele não está tão receoso em continuar a consumir. Enquanto você tem um setor de consumo ainda confiante, isso é muito positivo", diz. "A economia ainda tem uma boa expectativa para o segundo semestre".

Apesar disso, ainda é cedo para decretar que o pior da crise já passou. "Me parece que o fundo do poço já chegou, mas ainda vemos alguns segmentos com declinação degativa durante o segundo trimestre. Ainda está cedo para fazer apostas e falar de recuperação".

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