segunda-feira, 9 de março de 2009

Indústria frustra previsões e renova recorde negativo

Fonte: G1.globo

Por Rodrigo Viga Gaier e Vanessa Stelzer

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A produção da indústria brasileira cresceu em janeiro na comparação com o mês anterior após três quedas seguidas, mas em ritmo bem inferior ao esperado, e o desempenho frente ao ano passado foi o pior já visto, mostrando que o setor ainda sofre com a crise global.

O setor automotivo teve grande peso nas duas comparações, mostrando uma recuperação após as paradas de dezembro, mas seguindo bem abaixo do patamar do ano passado.

A alta da produção geral sobre dezembro foi de 2,3 por cento, após a queda revisada de 12,7 por cento em dezembro, informou nesta terça-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A previsão de analistas ouvidos pela Reuters era de crescimento de 8,3 por cento.

Sobre janeiro de 2008, a atividade despencou 17,2 por cento, a maior queda da série histórica iniciada em 1991 e a terceira baixa seguida, depois de cair 14,5 por cento em dezembro nesse tipo de comparação. Analistas previam um recuo menor, de 11,3 por cento.

"Em janeiro houve um estancamento da queda, mas não a ponto de sequer levar o patamar de produção ao nível de novembro do ano passado", destacou Silvio Sales, economista do IBGE.

"A tendência da produção é negativa, em que pese a produção ter parado de cair" em relação ao mês imediatamente anterior.

Economistas previam que, depois das fortes quedas desde o aprofundamento da crise mundial, em setembro, a indústria mostrasse recuperação em janeiro na comparação mensal, devido à baixa base de comparação. Mas os números, que tornam mais nebuloso o panorama do primeiro trimestre, só devem reforçar a previsão de um novo corte do juro pelo Banco Central na semana que vem.

"Isso é ruim para o cenário de crescimento para o ano... Estamos revisando nossa previsão de 1,5 para 0,6 por cento para o crescimento do PIB em 2009", afirmou Guilherme da Nobrega, economista-chefe da Itaú Unibanco Corretora.

"O mercado vai convergir para uma visão de crescimento zero este ano e para cortes mais rápidos para a Selic."

Desde o agravamento da crise mundial, a queda na indústria é de 18,2 por cento --sendo que a perda do segmento de duráveis é de 29,7 por cento e o de bens de capitais é de 20,4 por cento.

"São os dois mais sensíveis ao crédito que foram afetados pela crise", disse Sales. "O ciclo de ajuste de estoque continua, tendo em vista o resultado de janeiro."

Em 12 meses, a produção tem crescimento acumulado de 1 por cento.

SETORES

Na comparação mensal, 15 dos 27 setores industriais pesquisados tiveram aumento da produção, com destaque para Veículos automotores, com salto de 40,8 por cento, refletindo "o retorno parcial das férias coletivas concedidas pelo setor nos meses anteriores", segundo o IBGE.

Além disso, o instituto citou a ajuda da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

"Há informações de que em fevereiro já há até filas de espera por alguns modelos e trabalhadores estão sendo chamados de volta para a linha de produção", disse Sales.

O sindicato dos Metalúrgicos do ABC informou na segunda-feira que a Volkswagen convocou cerca de 7 mil funcionários para produção extra em sua fábrica de São Bernardo do Campo (SP) neste sábado, para atender aumento de demanda.

Entre as categorias de uso, registraram expansão bens de consumo duráveis (38,6 por cento), bens de capital (8,4 por cento) e bens intermediários (0,8 por cento), enquanto bens de consumo semi e não duráveis declinaram pelo quarto mês seguido, em 0,6 por cento.

Em relação a janeiro de 2008, apenas um segmento não apresentou retração, o de Equipamentos de transporte.

Os setores que puxaram a queda estão relacionados à redução na demanda interna e externa provocada pela crise global.

"Outro indicador confirma o maior espalhamento de resultados negativos: o índice de difusão assinalou queda em 75 por cento dos 755 produtos investigados", segundo o IBGE.

Na comparação com janeiro de 2008, destacaram-se as quedas em Veículos automotores (-34,5 por cento) e Produtos químicos (-29,2 por cento).

Todas as categorias de uso tiveram declínio nesse caso: bens de consumo duráveis (-30,9 por cento), bens intermediários (-20,4 por cento); bens de capital(-13,4 por cento) e bens de consumo semi e não duráveis (-8,3 por cento).

(Texto de Daniela Machado; Edição de Alberto Alerigi Jr.)

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