sábado, 12 de julho de 2008

Um recorde galáctico

Postado por Cássio Barbosa em 11 de Julho de 2008 às 10:25

Nessas últimas semanas, nas quais a gente vem acompanhado as atividades da sonda Phoenix aqui no G1, uma marca importante foi batida e passou meio que despercebida: o recorde de massa para uma estrela.

Estrela mais massuda

Em um post mais antigo eu falei de uma estrela no aglomerado de Pismis 24 que ousava exceder o limite estatístico de 150 massas solares para uma estrela. Limite estatístico, pois essa estimativa foi feita projetando-se a maior massa possível de uma estrela, baseando-se em dados conhecidos de aglomerados propícios para formar esse tipo de astro.

A partir destas projeções, chegou-se ao valor de 150 massas solares. Isso significa que encontrar uma estrela com muito mais do que 150 massas solares deve ser extremamente improvável, uma pequena flutuação em torno deste valor deve ser possível, mas 200 massas solares para a estrela de Pismis 24 não dava.

Essa questão foi resolvida, literalmente, mostrando-se que essa tal estrela é na
verdade um sistema com três estrelas. Ainda que duas delas sejam muito parecidas e a terceira tenha menos massa que as outras duas, nenhuma delas deve sequer ser mais de 100 massas solares. Na melhor das hipóteses, deve ser algo do tipo “duas de 80 e uma de 40″.

Com isso, o título de estrela mais massuda* estava com WR20a, um sistema duplo formado por estrelas de 82 e 83 massas solares. Um outro sistema duplo, WR21a, é por vezes apontado como tendo a estrela recordista (87 massas solares), mas nesse caso a medição não é tão confiável.

A estrela mais massuda da galáxia está no aglomerado NGC 3603, que por sua vez está (ou estava) em um dos braços que sumiram da Via Láctea. A estrela faz parte do sistema binário conhecido como NGC 3603 A1, e seus componentes devem ter 116 e 89 massas solares cada um.

As medições, nesse caso, foram feitas com um dos melhores equipamentos em Terra, o Telescópio Muito Grande (VLT, em inglês) operado por um consórcio europeu e localizado no Chile. Os resultados foram obtidos usando-se a boa e velha dinâmica newtoniana — aquela mesma que a gente aprende no ensino médio e depois vê com mais detalhes
nos primeiros semestres dos cursos de física, matemática e engenharia.

Ainda que exista uma margem de erro relativamente grande, em torno de 30 massas solares, no caso mais extremo (e mais improvável) a estrela mais massuda deve ter então 86 massas solares, e isso ainda a deixa detentora do recorde galáctico. Com tudo isso, ainda temos o tal limite estatístico preservado, quer dizer, ainda aguardamos uma evidência direta de alguma estrela com mais de 150 massas solares.

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*Nota: o termo correto é esse mesmo. Massivo não existe e maciço não esta 100% certo e, como eu sei que uma colega anda pegando no meu pé só por causa disso, vamos gastar
o português correto.

Júpiter perde uma de suas manchas. Ou não.

Postado por Cássio Barbosa em 09 de Julho de 2008 às 15:24

Cá estou eu de volta, finalmente. Final de semestre é dureza, quem faz faculdade sabe que nessa hora acumula tudo: provas, trabalhos e tudo mais que possa fazer da vida um pequeno inferno. Agora veja isso do ponto de vista do professor, ou seja, multiplique por dez, e adicione intermináveis reuniões para fechamento do semestre atual e preparação do semestre seguinte! Resultado: sumiço do blog… Mas vamos ao que interessa: astronomia!

Nest post logo aí abaixo eu falei da descoberta de mais uma mancha vermelha em Júpiter. Com isso a família estava em três: a Grande Mancha Vermelha, a Mancha Vermelha Júnior e a Oval BA. Todas elas representando tempestades na atmosfera de Júpiter, sendo a Grande Mancha uma tempestade que já está ocorrendo há mais de 200 anos, sem sinal de enfraquecimento. As outras duas são muito mais recentes e apresentaram sinais de que se tornaram mais fortes em decorrência de um aquecimento da atmosfera de Júpiter. Nesse post mesmo está escrito que as três manchas tinham um encontro marcado para o começo de agosto, mas elas se anteciparam e nessas duas últimas semanas elas se reuniram.

Esse encontro vinha sendo aguardado com curiosidade, pois ninguém sabia como
tudo iria acabar. Especular a respeito de uma trombada de tempestades com dimensões
como esta é algo difícil, mas no final das contas duas coisas poderiam ocorrer. A
primeira teoria é que haveria a destruição de alguma das manchas. Ou todas. A
segunda idéia dizia que elas simplesmente iriam se roçar e cada uma seguiria adiante
com sua vida. Mas o que aconteceu?

jupiter 30 de junhoNuma campanha observacional de astrônomos amadores do mundo inteiro, o que se viu foi a morte da Júnior. Essas duas fotos de Isao Miyazaki mostram a trombada entre a Grande Mancha (GRS) e a Júnior (LRS) em 30 de junho, tudo assistido pela mancha Oval BA. Neste último dia 5 de julho vemos que a Júnior não sobreviveu ao encontro. Das três irmãs, a do meio aparentemente foi destruída pela mais velha.

Aparentemente, pois antes de autuar a Grande Mancha por fraticídio, chegou mais uma imagem obtida no dia 7 mostrando que, ao menos no infravermelho, a Júnior sobreviveu. As imagens obtidas no visível mostram as camadas mais superiores da atmosfera de Júpiter e uma no infravermelho tem o poder de mostrar camadas mais profundas. Pode ser que, abaixo da camada superior de nuvens, a tempestade ainda exista e venha aflorar novamente em breve. Mas isso só vai vai dar para saber observando Júpiter continuamente.

jupiter 5 de julhoAliás, mesmo sem telescópios observar Júpiter está particularmente interessante nessas últimas semanas. Isto porque Júpiter é o objeto mais brilhante do céu noturno (excluindo
a Lua, é claro) e especialmente hoje estará em máxima aproximação da Terra. Se você quiser observá-lo basta procurar pelo ponto de luz mais brilhante no céu após o anoitecer, na direção sudeste. Traçando uma linha de Júpiter até o outro lado do horizonte
(aproximadamente na direção noroeste), passando pela Lua crescente, você deve encontrar Marte e Saturno muito próximos. E não se preocupe se você não puder observar hoje, este cenário manter-se-á por algumas semanas sem mudança notável — a menos da Lua, é claro! Com qualquer luneta ou binóculo simples, você já será capaz de distinguir as faixas de nuvens da atmosfera de Júpiter. Já com um instrumento com pelo menos 12 cm de diâmetro você já poderá notar detalhes como a Grande Mancha Vermelha e, se você notar que a Júnior reapareceu, tire uma foto que o mundo inteiro vai querer saber!

O novo mapa da Galáxia

Postado por Cássio Barbosa em 03 de Junho de 2008 às 15:54

Você é daqueles esquecidos que volta e meia perde um guarda chuva, esquece um casaco ou vive perdendo as chaves do carro? Não se lamente tanto, a Via Láctea também é assim, mas muito pior. Ela acaba de perder dois braços!

Hoje saiu o mais novo mapa da Galáxia com os dados do telescópio espacial Spitzer. Este era um dos principais projetos deste satélite que já está funcionando parcialmente depois de 5 anos de trabalhos.

cassiomap600.jpg
Desde a década de 1950 os astrônomos tentam desenhar nossa galáxia. Imagine só o problema, ter de fazer um mapa da sua cidade sem poder olhar de cima e nem mesmo sem poder sair da sua casa. O máximo permitido seria olhar pela janela e tentar rabiscar como seriam as ruas, a distribuição de parques e prédios. O problema com a Via Láctea é o mesmo, visto da Terra, como desenhar o mapa da galáxia inteira?

Várias técnicas foram desenvolvidas para tentar suplantar este problema. Até hoje, as mais promissoras eram as técnicas de observação em rádio. Toda questão se resume em saber qual a distância dos aglomerados de estrelas, pois a direção é fácil, basta anotar a posição em que o telescópio está apontado. Pelo método rádio, a determinação da distância se baseia em muitas hipóteses combinadas e nem todas elas muito sólidas. Daí surgiu um mapa, repetido inúmeras vezes quando alguém quer mostrar como é nossa galáxia. Este mapa mostra uma galáxia espiral barrada (com uma barra de estrelas bem no centro) com quatro braços. Que a Via Láctea parece ser uma galáxia espiral barrada já é consenso, mas o número de braços ainda é assunto para discussão.

Agora com este mapa do Spitzer, que observou boa parte da nossa galáxia em comprimentos de onda no infravermelho nossa percepção da galáxia vai mudar. Baseado em um método de contagens de estrelas, ou seja, observando em uma dada direção um programa de computador analisa as posições em que há maior concentração de estrelas, duas equipes de astrônomos lideradas por Robert Benjamin perceberam que faltavam estrelas onde se pensava haver dois braços, conhecidos como braço de Norma e Sagitário. Olhando para o braço de Scutum-Centauro, notaram que o número de estrelas aumentava como esperado, ou seja, o programa foi capaz de detectar um braço onde ele existia. Se na direção de Sagitário e Norma não foram detectadas altas concentrações de estrelas, então não há mesmo um braço por lá.

Este resultado é bastante interessante e vai trazer uma nova discussão: o que nos induziu a pensar que existiam mais dois braços na Via Láctea? Observações erradas ou modelos incompletos? O fato é que eu estou em um grupo de pesquisa que vem estudando a forma de nossa galáxia e que já há alguns anos nós estamos notando discrepâncias entre distâncias obtidas via rádio e obtidas via infravermelho. Nosso palpite sempre foi que os modelos são, no mínimo, incompletos. Ainda precisamos analisar este mapa com cuidado, pois ele saiu hoje, mas parece que este é mais um ponto a nosso favor!

A família aumentou!

Postado por Cássio Barbosa em 22 de Maio de 2008 às 15:34

Para mim, fotos de Júpiter como esta, tiradas pelo Hubble, lembram os quadros de Van Gogh. Mas, na realidade, esta em específico mostra o nascimento de mais uma mancha vermelha. Agora a família já tem três membros!

Manchas

A Grande Mancha Vermelha foi observada pela primeira vez por Giovanni Cassini em 1665 e representa uma tempestade que deve durar aí uns 350 anos, pelo menos. Mais recentemente, em 2006, uma outra tempestade parecida foi descoberta na mesma latitude da Grande Mancha Vermelha. Ela foi chamada de Oval BA, mas é mais conhecida
como Mancha Vermelha Júnior. O curioso é que a Mancha Júnior foi formada pela junção
de três manchas ovais esbranquiçadas em 2005. No ano seguinte, ela se tornou vermelha.
Essa mancha “passeia” pela atmosfera de Júpiter e, de dois em dois anos, encontra sua irmã maior. Agora uma terceira mancha veio se juntar à família.

A nova mancha foi descoberta a oeste da Grande Mancha na mesma latitude. Ela é
vermelha como a Júnior, mas não tão escura quanto a Grande. Ninguém sabe ao certo por que elas são vermelhas. Especula-se que seja por que elas arrancam material das camadas de nuvens mais abaixo das camadas que nós vemos no telescópios. E o curioso é que, quando a Júnior nasceu, ou seja, quando se tornou vermelha, a Grande, que já era vermelha, ficou mais escura.

O que está fazendo com que manchas vermelhas apareçam assim e a Grande Mancha Vermelha fique mais vermelha ainda? Ao que parece, Júpiter está passando por uma grande mudança climática. Aparentemente a temperatura está subindo no equador e baixando nos pólos. Uma mudança de temperatura global de 10 graus Celsius está sendo prevista para os próximos anos. Essa mudança tem o efeito e criar novas tempestades e também intensificar as tempestades existentes, e essas mudanças partiriam do sul de Júpiter, justamente onde estão as três manchas. Isso faria com que a Grande Mancha sugasse mais material de baixo, ficando mais escura, e a Júnior ficasse mais intensa, a ponto de conseguir atingir uma camada mais abaixo, o que, no final das contas, deixou-a vermelha.

As atenções agora se voltam para essa família em Júpiter, que acabou de surgir detrás do Sol. É que em agosto, segundo as projeções, a nova mancha (ainda sem nome ou apelido) deve se encontrar com sua irmã mais velha. Duas coisas podem acontecer: um abraço
tão fraterno que as duas tempestades acabem se juntando numa só, ou uma
incompatibilidade total de gênios, e cada uma vai para um lado diferente. Vamos aguardar!

Um vizinho de mau humor

Postado por Cássio Barbosa em 20 de Maio de 2008 às 12:44

Todo mundo tem um dia ruim. Tem dias que nada dá certo, as coisas saem erradas e você eventualmente tem vontade de explodir e nessa hora é bom não ter ninguém por perto.

As estrelas também.

No dia 25 de abril, o satélite Swift detectou o que seria a mais violenta expressão de mau humor que uma estrela poderia ter. Uma explosão de alta energia detectada principalmente em raios-X. Confira!

cassioevlac.jpg

Isso já seria surpreendente por si só, pois o Swift é um satélite projetado para detectar explosões de raios gama do universo distante e detectar uma explosão tão violenta de uma estrela nunca esteve em seus planos. Entretanto, este fato se tornou ainda mais surpreendente quando se descobriu que a estrela que estava em um dia ruim era EV Lacertae.

EV Lacertae é uma anã vermelha, o tipo de estrela mais abundante no universo. Ela tem apenas um terço da massa do Sol e brilha com apenas um centésimo da luminosidade dele. Pode ser vista apenas com telescópios com um brilho de magnitude 10 no céu. EV Lac é um dos nossos vizinhos mais próximos, a apenas 16 anos luz de distância.

Com isso tudo, não haveria muito a se dizer desta estrela — ela é relativamente jovem, com algumas centenas de milhões de anos e gira uma vez a cada quatro dias. Comparativamente, nosso Sol gira uma vez a cada quatro semanas.

A explosão foi detectada primeiramente pelo instrumento russo Konus a bordo do satélite Wind da NASA. Dois minutos depois o Swift já apontava seu telescópio de luz ultravioleta e óptica para observá-la. Só que a explosão foi tão intensa que o telescópio automaticamente se desligou por motivos de segurança. A explosão permaneceu intensa durante mais de 8 horas! Durante este período, a estrela aumentou tanto de brilho que se tornou visível a olho nu.

Mas o que teria causado tanto mau humor a esta criança?

Muito provavelmente esta explosão está ligada ao seu rápido período de rotação e seu campo magnético. O Sol passa por momentos assim de vez em quando, mas nada tão violento, ainda bem. Uma explosão como esta é capaz de esterilizar qualquer ambiente com vida. A rápida rotação da estrela deve gerar campos magnéticos muito fortes em pontos bem localizados. Nestes pontos o valor do campo deve ser 100 vezes mais intenso que o campo magnético do Sol. A energia armazenada no campo magnético é que dá origem a explosões como estas.

A teoria a respeito do surgimento destas explosões ainda tem detalhes controversos e sempre se baseou nas explosões que observamos no Sol. EV Lacertae agora nos dá a oportunidade não só de aprimorar esta teoria, bem como nos abre uma janela para o passado. Como ela é uma estrela 15 vezes mais jovem que o Sol, o estudo do seu dia de mau humor nos dá dados a respeito do comportamento do Sol em seus dias de juventude. Em seus primeiros bilhões de anos de vida ele deve ter passado por momentos assim, explodindo milhões de vezes, cauterizando o material que um dia iria se tornar na Terra e os outros planetas.

Ainda bem que a idade trouxe um pouco de tranqüilidade ao Sol!

Bombardeio regular

Postado por Cássio Barbosa em 06 de Maio de 2008 às 08:58

Dino

Já é consenso que um impacto de larga escala dizimou os dinossauros há uns 65 milhões de anos. Evidências geológicas apontam para a presença de uma fina camada de material que indica que, nessa época, um grande cometa se chocou com a Terra. Com esse impacto violento, uma camada de poeira se ergueu na alta atmosfera, bloqueando a luz solar. Assim, a temperatura e a irradiação solar diminuíram, o que levou à morte os grandes animais que dependiam de mais calor e muita comida. Pesquisas mostram que provavelmente esse impacto formou o golfo do México.

Bom, até aí não há muitas novidades, mas uma pesquisa feita no Centro de Astrobiologia de Cardiff, no Reino Unido, sugere agora uma origem para esse bombardeio fatal. A idéia geral é a de que no passado, o Sistema Solar era cheio de asteróides que ficavam vagando como restos da formação dos planetas. Havia uma quantidade pequena de grandes asteróides e uma grande quantidade de pequenos.

Os grandes foram caindo, principalmente nos grandes planetas, como Júpiter e Saturno, que ajudaram a limpar nosso Sistema Solar. Aliás, uma das teorias de surgimento da vida em planetas diz que é necessário que um sistema planetário possua planetas gigantes para que eles limpem o sistema dessas pedras espaciais. Sem eles, o bombardeio em planetas com potencial para o desenvolvimento da vida seria tão grande que não haveria condições para que ela surgisse. Em casos extremos o planeta até poderia ser destruído.

Aconteceu por aqui
Esse bombardeio certamente aconteceu com a Terra no início dos tempos. Aliás, a melhor teoria para a formação da Lua diz que um grande cometa, do tamanho aproximado de Marte, teria se chocado com a Terra, e os destroços dessa colisão teriam formado a Lua. No local do impacto teria se formado o oceano Pacífico. Mas isso é outra história.

O que os pesquisadores em Cardiff estão sugerindo, através de modelos computacionais, é que esde bombardeio de asteróides e cometas acontece periodicamente. O Sol se move em nossa Via Láctea e arrasta com ele todo o Sistema Solar. Em um desses movimentos ele atravessa o plano da nossa galáxia a cada 30-40 milhões de anos.

Nessas passagens o nosso Sistema Solar sente a presença das nuvens de gás que estão concentradas nessa faixa estreita. Essa interação é suficiente para “soltar” asteróides e/ou cometas que estão na nuvem de Oort, uma região bem mais distante que a órbita de Plutão, onde estão vagando os restos da formação do Sistema Solar. Essa nuvem é um verdadeiro reservatório de cometas.

Dessa maneira, a cada 30 ou 40 milhões de anos, vários desses cometas se desgrudam dessa nuvem e mergulham no interior do Sistema Solar. Alguns deles sobrevivem à ação limpadora dos gigantes gasosos e fatalmente atingem a Terra. Os resultados chamam a atenção porque a cada 30 milhões de anos, aproximadamente, existem registros de extinção em massa na Terra, e isso não seria mera coincidência. Tal período de intenso bombardeio também coincide com a extinção dos dinossauros há 65 milhões de anos. Outro resultado da pesquisa mostra que nosso Sistema Solar está bem próximo de sofrer um novo bombardeio.

O que deve ter sido uma péssima notícia para os dinossauros, principalmente, é uma boa notícia para a vida. Com um bombardeio intenso assim, as chances de algum destroço “contaminado” com microrganismos ter escapado da Terra é bem grande, e isso deve ter ajudado a espalhar a vida pelo espaço. Falta só encontrá-la!

Tempo ruim

Postado por Cássio Barbosa em 30 de Abril de 2008 às 11:19

cassiosaturno.jpg

O feriadão está chegando, mas quem planejava pegar uma praia ou simplesmente curtir o recesso ao ar livre está mudando de planos. Tempo ruim, chuvas e frio fazem parte da previsão por todo o país. E em Saturno também…

Esses dias a sonda Cassini, que está em órbita de Saturno desde 2004 e teve sua
missão estendida por mais algum tempo, mandou algumas imagens que mostra uma tempestade gigantesca neste planeta. Essa tempestade é uma das mais poderosas e duradouras já registradas no Sistema Solar! Cada descarga elétrica tem uma potência 10 mil vezes maior que uma descarga na Terra e essa tempestade já dura uns 5 meses sem sinais de enfraquecimento.

A Cassini possui detectores de rádio que recebem os sinais produzidos de Saturno. Uma das técnicas para se tentar medir a duração do dia em Saturno se baseia nas alterações destas emissões. O fato é que cada vez que uma descarga elétrica ocorre em Saturno, sinais de rádio são emitidos durante décimos de segundos e a Cassini registra todos aqueles que estão na sua linha de visada.

Esta mesma técnica é empregada na Terra para se mapear as regiões com maior incidência de raios. No caso de Saturno, se a tempestade estiver visível para a Cassini ela vai ser registrada, mesmo que ela esteja bem na linha do horizonte. Quando a tempestade passa para o outro lado do planeta, ou quando a Cassini está do outro lado do planeta, ela não consegue registrar nenhum evento.

Aí entram os amadores. A tempestade acima, descoberta no hemisfério sul de Saturno, é visível na Terra em telescópios de médio porte e está sendo acompanhada nestes 5 meses em que ela dura. Com um monitoramento destes foi possível notar que a tempestade não está enfraquecendo e, melhor ainda, as tempestades menores que ocorrem ao redor desta gigantesca estão ganhando força.

Na verdade já apareceu mais uma outra tempestade quase do tamanho da primeira. Isso garante mais diversão para os próximos meses!

Espero que ninguém se aventure por lá, os ventos atingem 1.600 km/h fácil, fácil. Bom feriado!

Um bebê e tanto!

Postado por Cássio Barbosa em 25 de Abril de 2008 às 10:51

cassiobercario.jpgOutro motivo para o meu sumiço foi por conta de um trabalho que eu precisava finalizar. Trata-se de um resultado bem bacana da minha pesquisa e já que estou sempre falando de resultados bacanas de outros colegas, por que não falar um pouco dos meus resultados?

Estive às voltas com alguns dados de uma região chamada W51 IRS2, que é uma subregião de W51, um grande complexo de formação de estrelas de nossa galáxia. O foco da minha pesquisa é estudar essas regiões de formação de estrelas, mais especificamente como as estrelas com muita massa se formam.

As estrelas com massa inferior a 8 vezes a massa do Sol têm seu mecanismo de formação já bem estabelecido ao longo dos anos. As que têm mais de 8 massas é que ainda não se sabe ao certo como se formam. E são essas que me interessam mais!

Essa imagem acima mostra pelo menos uns cinco objetos que são candidatos a estrelas de alta massa (como são chamadas essas estrelas com mais de 8 massas solares) em estágios ainda bem iniciais de formação. Todas estas estrelas brilhantes e amareladas pertencem a este berçário. A estrela esbranquiçada à direita está entre nós e o aglomerado, que deve estar a uns 20.000 anos luz de distância.

A gente já sabia que este aglomerado guardava algumas surpresas, na verdade, ainda estamos analisando os nossos dados e mais surpresas estão surgindo. Só que ela é uma região meio difícil de se observar — está distante e é bastante “apagada”, pois tem muita poeira. Para poder estudá-la tivemos de recorrer ao que temos de melhor no mundo: o telescópio Gemini Norte, que está no Havaí e um espectrógrafo de última geração. Tudo isso ainda com o auxílio de uma técnica revolucionária que compensa os efeitos que a atmosfera introduzem nas imagens. Isso meio que elimina estes efeitos, fazendo com que as imagens produzidas na superfície da Terra sejam até melhores que as produzidas pelo Hubble!

Essa técnica exige analisar uma estrela brilhante que esteja por perto do objeto estudado, mas no nosso caso não tínhamos esta possibilidade. O jeito então foi criar uma estrela! Neste caso, um laser bem potente é apontado na mesma direção do alvo. A uns 90 km de altura, existe uma camada de sódio proveniente da queima de meteoros na nossa atmosfera e a intenção deste laser é excitar um ponto desta camada que brilha como uma estrela. Essa estrela artificial é usada para estudar como a atmosfera borra as imagens naquele instante. Aí os computadores introduzem pequenas deformações no espelho do
telescópio para compensar os efeitos da atmosfera.

Essa imagem foi obtida dessa maneira, mas as surpresas vieram de outros dados.

Olhando no espectro desta estrela mais brilhante acima à direita, conhecida como W51d, nós encontramos evidências que esta seria uma estrela com muita massa, talvez umas 90 vezes a massas do Sol. A temperatura desta estrela deve ser por volta de 45.000 graus e tem uma luminosidade de quase 300.000 vezes a luminosidade do nosso Sol! Acontece que em um trabalho no começo deste ano, nós conseguimos mostrar que esta estrela estava em um estágio de evolução muito jovem, conhecido como uma região HII ultra compacta. Este é um estágio bem inicial da formação de estrelas de alta massa. A nossa descoberta representa o flagrante de uma das estrelas mais massivas conhecidas em um estágio tão jovem de evolução.

Outra descoberta importante é referente a esta mancha avermelhada no centro da imagem. Ela deve ser uma estrela também de grande massa se formando, mas em um estágio ainda anterior à W51d. Esta estrela, chamada de IRS2E está rodeada por um disco que transfere a matéria de um reservatório externo para a própria estrela, fazendo-a aumentar sua massa. Esse processo de formação nunca foi aceito sem sérias críticas e tem gente mesmo que não acredita nisso. Eu particularmente sempre achei que não só é possível, mas também necessário que as coisas se processem desta maneira. Agora esta aí uma prova!

Um resumo do artigo que vai sair no dia primeiro de maio está no site do Observatório Gemini (www.gemini.edu). A matéria se chama “Two Very Young Massive Stars Unshrouded with LGS AO” e está em inglês.

De volta ao trabalho!

Postado por Cássio Barbosa em 21 de Abril de 2008 às 10:46

cassiopiramide.jpg

Andei sumido por mais de um mês por diversos motivos, mas estou de volta! Tive alguns compromissos e obrigações que me obrigaram a deixar o blog por um tempo. Alguns destes motivos eu vou apresentar aqui, eles têm tudo a ver com astronomia, de hoje e de 4.000 anos atrás!

Um dos motivos do meu afastamento foi uma viagem que precisei fazer ao Egito, mais especificamente ao Cairo para um congresso. Além da astronomia feita atualmente tivemos contato com aquela de 2.000 a.C.. Fomos visitar alguns monumentos e, não só eu mas também vários outros colegas ficamos maravilhados com a engenhosidade dos antigos egípcios.

Mas o que isto tem a ver com astronomia? Tudo!

Quem ordenou a construção das pirâmides foram os faraós, quem as construíram foram os engenheiros, quem as projetaram foram os astrônomos! Naquela época (e durante muito tempo, para falar a verdade) os astrônomos se confundiam com os sacerdotes. A construção das pirâmides, por exemplo, seguia rigorosamente preceitos astronômicos, desde a definição do local da construção até o corte dos blocos de pedra!

A posição das pirâmides no solo marca posições de estrelas e/ou constelações celestes. Elas estão relacionadas com o aspecto do céu no momento do nascimento do faraó. Isso explica por que algumas pirâmides estão tão distantes umas das outras e pertenceram a pai e filho, por exemplo. Esse fato, inclusive, foi descoberto recentemente com o uso de GPS. As pirâmides em si, estão orientadas com cada face em direção a um ponto cardeal. E como isso foi possível? Através da observação meticulosa e cuidadosa do céu, dia após dia, noite após noite, durante séculos. Fundamental também foi o cuidado com a transmissão do conhecimento adquirido por gerações anteriores.

Os blocos de pedra, por exemplo, formam encaixes quase perfeitos. As bordas destes blocos têm, às vezes, um metro de comprimento e formam linhas retas, quase perfeitas. Como os engenheiros conseguiam isso? Eles esticavam uma corda e deixavam a sombra do Sol marcar uma linha reta no solo. Daí era só marcar a rocha e cortar com cuidado. Cada bloco era transportado sobre troncos e eram encaixados com o auxílio de rampas em níveis cada vez mais altos.

Algumas câmaras, em especial as câmaras funerárias, tinham alguma fresta por onde o Sol entrava no nascer de um dia específico. O aniversário do faraó, ou o início do verão, por exemplo. Toda essa engenharia só foi possível com a observação cuidadosa e paciente do céu. E isso naquela época era uma necessidade vital. Esta observação ditava o calendário da população, que se relacionava basicamente com o período de cheia do Nilo. Eram quatro meses de inundação onde a água subia mais de 10 metros algumas vezes, fazendo com que a agricultura fosse abandonada. Esse período de cheias, ligado ao regime de chuvas, precisava ser previsto, pois durante esta época não havia como plantar nem colher nada. Se não houvesse estoques de comida, haveria fome e faraó que deixava seu povo passar fome não durava muito.

A forma de vários destes monumentos também parece estar ligada a fenômenos astronômicos. As pirâmides representariam os raios de Sol vindos do céu, mas há também quem diga que representam a ascensão do faraó aos céus. Os obeliscos representariam os raios do Sol nascente, assim que ele desponta no horizonte, chamados hoje em dia de pilar solar.

Obras de engenharia baseadas em astronomia na idade antiga são incontáveis, não só no Egito. Tão interessante quanto as obras em si, é ver a evolução que elas sofreram no decorrer do tempo. Mais ao Sul do Cairo, onde estão as famosas pirâmides de Quéops, Quéfrem e Miquerinos (três gerações de faraós), existe a primeira pirâmide conhecida, feita em degraus. Muito tempo depois é que os engenheiros resolveram cobrir esses degraus com uma camada de pedras que deixava cada face lisa. A primeira pirâmide que recebeu esta camada foi a pirâmide de Snefru, em Dashur. Só que as faces destas pirâmides eram muito inclinadas para se sustentar e no meio da construção os engenheiros tiveram de fazer uma mudança estrutural de modo que a metade faltante ficasse com uma inclinação mais suave. Esta pirâmide é conhecida como “a pirâmide torta”. No final da construção o faraó mandou que fosse construída uma outra pirâmide, mas não sei se os engenheiros da pirâmide torta tiveram um final feliz…

Isso mostra um dos primórdios do método científico, popularmente chamado de tentativa e erro. Depois desta experiência, todas as pirâmides saíram com inclinações mais suaves, finalizadas com estabilidade. Isto tudo demonstra a inteligência e a sagacidade humana, capazes de projetar e construir obras monumentais nos mais remotos tempos da história. Chega a ser ofensivo ouvir gente dizendo que as pirâmides são obras de E.T. por que os egípcios nunca as poderiam ter construído. Talvez se eles tivessem ficado pensando em bobagens assim nunca as teriam construído mesmo, mas ao invés disto projetaram e construíram ferramentas tão impressionantes quanto as obras que estão a nos contemplar há 30 séculos, parafraseando Napoleão.

Bom, um pouco de astronomia e um pouco de história na volta ao blog. No próximo post, mais um dos motivos para o meu afastamento. Não vai demorar tanto, eu prometo!

Ora vejam só…

Postado por Cássio Barbosa em 13 de Março de 2008 às 15:17

nebulosaplanetaria2-300.jpgNem bem o post aí de baixo ficou velho e saem os resultados de uma pesquisa com nebulosas planetárias que são bem interessantes.

Como eu escrevi, cada nebulosa planetária revela uma surpresa: no geral têm quase sempre o mesmo aspecto, mas cada uma tem detalhes próprios. Na maioria das vezes, como na NGC 2371 abaixo, esses detalhes acabam sem explicação, apenas boas hipóteses. Agora, uma equipe de astrônomos da Universidade de Rochester, nos EUA, diz que tem uma outra explicação para a grande variedade de nebulosas planetárias observadas e esta explicação tem a ver com… planetas!

Pois é, você viu aí que o termo nebulosas planetárias foi cunhado há mais de 200 anos, na época em que objetos como esses estavam sendo descobertos. Isso porque aos telescópios da época as nebulosas planetárias lembravam em muito o planeta Urano. Depois de um tempo ficou claro que essas nebulosas não tinham nada a ver com planetas. Agora, depois de muito tempo, parece que as coisas não são bem assim.

Os argumentos da equipe liderada por Eric Blackman são bem interessantes e plausíveis. Funciona assim: as estrelas que originam as nebulosas planetárias são estrelas com pouca massa, tipo o nosso Sol, e não é difícil encontrar planetas em estrelas deste tipo. Temos aí centenas de planetas descobertos em estrelas assim, planetas gigantes gasosos muito próximos das estrelas (os “Hot Jupiters”) ou até mesmo indícios de planetas rochosos. Durante a expansão das camadas externas das estrelas, nos momentos finais de suas vidas, a presença de planetas ajudaria a moldar a nebulosa que vai ser ejetada.

Dependendo do tamanho dos planetas e a distância deles em relação à estrela, diferentes formas poderiam ser criadas. Um planeta grande e distante poderia formar uma barreira de gás e poeira que produziria uma “cintura”, dificultando a expansão do gás na região do equador da estrela. Isto resultaria em nebulosas deformadas, sem a forma esférica esperada. Planetas mais próximos da estrela poderiam efetivamente bloquear a expansão do gás no equador, favorecendo os pólos como rota de fuga. Nebulosas formadas assim teriam a forma de ampulhetas e em última análise este seria o mecanismo de formação de jatos nas nebulosas.

Tudo isso vem de simulações numéricas, isto é, ninguém viu um planeta em uma nebulosa planetária. Mas é uma idéia interessante e essas simulações conseguiram explicar a forma de M27, a primeira nebulosa planetária descoberta (na foto acima). Além do mais, é uma hipótese de fina ironia, afinal temos dito nesses últimos 300 anos que “nebulosas planetárias nada têm a ver com planetas”!

Último suspiro

Postado por Cássio Barbosa em 07 de Março de 2008 às 10:14

Os estágios finais da vida das estrelas são bem conhecidos. Sabemos que estrelas com pouca massa (como o nosso Sol) vivem muito tempo e acabam seus dias como anãs brancas, envoltas em nebulosas planetárias. Já as estrelas com muita massa vivem muito pouco e acabam suas vidas de modo muito mais violento, em explosões de supernova, deixando para trás uma estrela de nêutrons ou mesmo um buraco negro. Mas isso é no atacado; no varejo, a história é outra.

Quando o hidrogênio de uma estrela como o Sol se acaba, o seu núcleo se contrai violentamente, pois sua temperatura cai de repente. Ao mesmo tempo, as camadas externas são ejetadas para o espaço. O núcleo contraído transforma-se em uma anã branca com a compactação da matéria, a ponto de aproximar os elétrons e os núcleos dos átomos.

Já as camadas externas se expandem e são ionizadas pela anã branca, transformando-se em uma nebulosa planetária. Aliás, esse nome nada tem a ver com planetas: ele surgiu na época em que as primeiras delas foram observadas com telescópios, há mais de 200 anos. A forma arredondada, quase circular e nebulosa dava a impressão de se tratar de um planeta. Mas cada nebulosa planetária revela uma surpresa.

NebulosaA surpresa da vez vem da NGC 2371, uma nebulosa planetária na constelação de Gêmeos. Isso porque esta imagem do Hubble mostra o gás da nebulosa, rico em hidrogênio e oxigênio (verde e azul, respectivamente) se expandindo em torno do ponto central brilhante, o núcleo de uma gigante vermelha brilhando a uns 250 mil graus Celsius de temperatura. Até aqui tudo bem, mas as duas manchas claras avermelhadas e os vários pontos rosados na nebulosa não estão no roteiro.

Algumas pistas: a cor clara delas revela que são ricas em nitrogênio e são relativamente mais frias que o resto da nebulosa. E o fato de as duas manchas mais extensas estarem diametralmente opostas sugere um jato partindo do centro. Este jato aparentemente se mexeu no decorrer do tempo, indicando a possibilidade de uma estrela dupla no centro da nebulosa.

Com o passar do tempo, o núcleo vai esfriar e possivelmente vai se transformar em uma anã branca. Enquanto isso, a gente vai quebrando a cabeça tentando entender o que se passa por lá.

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Para tirar o fôlego!

Postado por Cássio Barbosa em 04 de Março de 2008 às 09:08

A sonda Mars Reconnaissance Orbiter acaba de mandar uma das fotos mais impressionantes de Marte. Ela mostra atividade geológica na superfície marciana!

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O Experimento de Imageamento em Alta Resolução, o nome em português da câmera de alta resolução desta sonda conseguiu capturar uma avalanche em Marte no momento em que ela acontecia. A idéia do projeto é monitorar regiões durante longos períodos de tempo para detectar mudanças na superfície decorrentes da mudança das estações marcianas. Sim, o planeta vermelho também apresenta um ciclo de alternância entre estações climáticas, alternando períodos de calor ou frio durante o ano.

Numa destas repassadas no dia 19 de fevereiro a sonda fotografou a encosta de uma elevação coberta de gelo. A idéia era procurar variação na quantidade de gelo decorrente da evaporação ou congelamento conforme as estações fossem mudando. A surpresa veio quando Ingrid Spitale, da Universidade do Arizona, percebeu que justo nesta encosta era possível ver nuvens de poeira. Aparentemente, blocos de gelo do alto do morro se desprenderam e rolaram ribanceira abaixo (uns 700 metros) levantando nuvens de poeira e pedaços menores de gelo. Estes blocos que se desprenderam serão monitorados também para se ter uma idéia de como se processa o ciclo de evaporação/recongelamento da água.

Este é um fato surpreendente, nem mesmo os cientistas envolvidos no projeto podiam prever que isso pudesse acontecer. Tirando as mudanças na aparência da superfície marciana causadas pelas tempestades de ventos, nenhuma mudança geológica substancial havia sido detectada. Esta encosta em particular agora será monitorada para se descobrir se avalanches como essas são esporádicas ou se estão ligadas com o aquecimento causado pelo início da primavera. Ninguém espera obter um flagrante como este de novo, espera-se saber se as avalanches continuam pela quantidade de material depositado no sopé do morro.

Ah, só para matar as saudades a Mars Reconnaissence tirou uma foto de casa. Apesar da resolução mais baixa, também é de tirar o fôlego.

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Finalmente um eclipse!

Postado por Cássio Barbosa em 18 de Fevereiro de 2008 às 08:57

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Nesta quarta feira 20/02 teremos um eclipse lunar e não será um daqueles parciais
que nos deixam com gostinho de quero mais na boca. Este será um total, bem de
“frente” para as Américas. Como assim?

Um eclipse lunar ocorre quando a Lua atravessa a sombra da Terra. Assim o Sol, a Terra e a Lua formam um reta. Por causa das diferenças entres as inclinações das órbitas da Terra e da Lua é difícil ter um alinhamento perfeito. Esta é a principal razão para não termos um eclipse lunar toda Lua Cheia, ou um eclipse solar toda Lua Nova.

Agora, o alinhamento é quase perfeito e melhor, ele deve ocorrer quando a Lua estiver bem alta para quem estiver nas longitudes das Américas.

Um eclipse lunar total tem duas fases: a penumbral (ou parcial) e a fase de totalidade. Na primeira a Lua passa pela parte mais externa da sombra da Terra, a penumbra. Por vezes é difícil de notar, mas conforme ela vai caminhando pela penumbra, vai perdendo brilho. A fase total começa quando a Lua adentra totalmente parte mais escura da sombra da Terra, a umbra.

Durante a fase da totalidade acontece um fato interessante. Apesar de estar na escuridão da sombra da Terra, a Lua ainda é iluminada pela luz que é espalhada por nossa atmosfera. Assim, um eclipse total pode ser mais escuro do que outro, dependendo de alguns fatores.

O astrônomo André-Louis Danjon criou uma escala para classificar o brilho um eclipse que vai de 0 a 4 assim:

0: eclipse muito escuro. A Lua quase não é visível durante a totalidade.
1: eclipse muito escuro e a Lua adquire um tom acinzentado, ou quase marrom.
2: a Lua se torna vermelha. O centro da sombra é muito escuro, mas suas bordas
são mais claras.
3: a Lua adquire uma cor de tijolo e a sombra tem borda brilhante amarelada.
4: a Lua fica muito brilhante durante a totalidade com uma cor alaranjada. A borda
da sombra também é brilhante chegando a um tom azulado.

Esse índice é bastante subjetivo, mas dá uma boa noção da “profundidade” do eclipse. Outra coisa interessante é que ele dá indícios de como atmosfera está suja. Como a luz que atinge a Lua foi espalhada pela atmosfera da Terra ela carrega informações sobre sua composição. Particulados em suspensão em nossa atmosfera favorecem a absorção da parte azul da luz deixando-a avermelhada. Por isso o Sol é mais vermelho quando está próximo do horizonte, principalmente à tarde. O índice Danjon, que é baseado na cor da Lua durante o eclipse, indica também se nossa atmosfera está mais ou menos carregada de partículas em suspensão. Essas partículas vêm da poluição provocada pelo homem, mas também da poluição natural. Os vulcões são grandes fontes de partículas que atingem facilmente a alta atmosfera e lá ficam por anos!

Mas vamos ao que interessa, qual o horário do eclipse? A tabela abaixo indica os momentos do eclipse no horário de Brasília (lembre que o horário de verão já acabou!).

1) Entrada da Lua na penumbra: 20/02 - 21h35
2) Entrada da Lua na umbra: 20/02 - 22h43
3) Lua totalmente imersa na umbra (início da totalidade): 21/02 - 00h01
4) Meio do eclipse: 21/02- 00h26
5) Início da saída da umbra (fim da totalidade): 21/02 - 00h51
6) Saída total da umbra: 21/02 - 02h09
7) Saída total da penumbra: 21/02 - 03h17

O eclipse terá uma duração de 51 minutos, ou seja, a Lua permanecerá quase uma hora
na parte mais escura da sombra da Terra. Para observar você só precisa de um local aberto que possa avistar a Lua. Com uma luneta, ou telescópio mesmo pequeno é possível ver a sombra da Terra caminhando e cobrindo as crateras e montanhas da superfície lunar. Agora é só torcer para são Pedro colaborar!

Um mistério e tanto!

Postado por Cássio Barbosa em 07 de Fevereiro de 2008 às 18:21

GaláxiaO que você está vendo não tem explicação. Ao menos uma definitiva. Essa imagem mostra a galáxia elíptica NGC 1132. A imagem em si é uma composição de imagens do telescópios espaciais Hubble e Chandra. A “névoa” rosada representa a emissão de raios X (obtida pelo Chandra) dessa galáxia elíptica. A própria galáxia parece uma mancha difusa, rodeada por diversas outras galáxias anãs e outras que estão na verdade ao fundo, sem conexão física com esse grupo em primeiro plano.

Mas qual é o mistério de NGC 1132? Dados recentes do Chandra mostraram que essa galáxia elíptica possui muita matéria escura. Mas muito mesmo! A quantidade desse tipo misterioso de matéria ao redor dessa galáxia é comparável à quantidade de matéria escura encontrada normalmente em grupos inteiros de galáxias! A emissão de raios X de NGC 1132 também é comparável à de um grupo inteiro de galáxias.

Esse tipo de galáxia forma o que se chama de grupo fóssil, pela sua gigantesca quantidade de matéria escura. Sua origem ainda permanece um mistério, mas duas hipóteses competem entre si. A primeira delas diz que essas galáxias elípticas gigantescas são na verdade o resultado da fusão de várias outras galáxias que formavam um grupo normal de galáxias no passado. A segunda hipótese diz que esse é um tipo muito especial de galáxia, formado em uma região ou em um período de tempo que em as condições inibiam de alguma maneira a formação de galáxias de tamanho médio. Ninguém ainda tem certeza sobre a hipótese correta, mesmo porque cada uma delas tem uma profunda relação com a própria formação do Universo.

O fato é que galáxias elípticas como estas podem conter trilhões de estrelas, mas como possuem uma grande quantidade de gás quente (responsável pela emissão dos raios X) não podem formar novas estrelas. NGC 1132 está a 320 milhões de anos-luz de distância, na constelação de Erídano.

Folia de estrelas

Postado por Cássio Barbosa em 29 de Janeiro de 2008 às 12:26

Carnaval espacialDepois de umas merecidas férias e uma mudança de cidade, estou de volta! E como na semana que vem tem Carnaval, nada como voltar com uma imagem que mais parece uma batalha de confetes!

Estamos falando do aglomerado Westerlund 2 (Wd 2 para os íntimos). É um aglomerado que concentra diversas estrelas maciças. Ele foi pouco estudado até agora, pois está envolto em muito gás e muita poeira. De uns tempos para cá essa situação mudou, graças aos telescópios espaciais Spitzer (que observa no infravermelho) e Chandra (que observa em raios-X).

A imagem foi composta por três outras obtidas em faixas específicas de energia dos raios X: em vermelho, baixa energia; em verde, energia intermediária; e, em azul, raios X de alta energia. Além dos diversos “confetes” voando pelo aglomerado, que são estrelas, ou sistemas de estrelas, vemos também muita emissão difusa. Na verdade, há muito gás quente (com temperatura de alguns milhões de graus Celsius) espalhado pelo aglomerado.

Wd2 (também conhecido como RCW49) abriga algumas das estrelas mais maciças conhecidas, em especial o par de estrelas WR20a. Esse sistema é composto por duas estrelas de 82 e 83 massas solares cada e são as estrelas mais maciças conhecidas. Existe um outro sistema, Pismis-24, na nebulosa NGC 6357, com 200 ou 300 massas solares. Esse sistema contém três estrelas, o que faz com que cada estrela tenha entre 60 e 100 massas solares. Essa incerteza coloca dúvidas no título de Pismis-24. Do ponto de vista da comprovação, aquele “confete” amarelo logo abaixo e à direita do centro da imagem contém as estrelas mais maciças que conhecemos.

As mais mais de 2007

Postado por Cássio Barbosa em 26 de Dezembro de 2007 às 17:27

Num arroubo de originalidade, pensei em juntar as 10 fotos mais significativas de 2007. O critério de escolha foi totalmente pessoal e provavelmente escapou muita coisa interessante, mas ficaram aquelas que marcaram pela importância da descoberta ou pela beleza da imagem.

Algumas delas você viu aqui no G1, outras eu aposto que ainda não viu.

Juntando as fotos, eu consegui mais de 20 e fui refinando com a intenção de chegar a 10, mas não consegui diminuir de 12. Acho que está bom, afinal são 12 meses em 2007.

Vamos a elas, sem nenhuma ordem cronológica ou classificação de importância:

I Zwicky 18:

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Além de ser uma galáxia esquisita, Zwick 18 revelou-se nesta foto uma galáxia mais velha do que se supunha. Estrelas jovens foram encontradas convivendo com estrelas bem mais velhas. Além disto, Zwicky 18 foi “empurrada” de 59 milhões de anos luz para 69 milhões de anos luz de distância.

NGC 602:

cassiofoto2.jpgNGC 602 é um aglomerado de estrelas massivas muito jovens. Ele faz parte do berçário de estrelas N90 na nossa galáxia vizinha, a Pequena Nuvem de Magalhães.

Cometa Holmes:

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Este cometa deu o que falar nestes últimos meses de 2007. Um cometa apagado que aumentou de brilho mais de um milhão de vezes em menos de 24 horas e se tornou visível a olho nu devido a uma explosão interna. A nuvem de destroços lançada pelo cometa se tornou maior que o Sol! Ainda surpreendente, ele está visível, em especial no hemisfério norte onde está bem alto no céu.

Saturno:

cassiofoto4.jpgEsta imagem de Saturno é espetacular por que mostra uma vista impossível de ver da Terra: Saturno em fase crescente. Isso só poderia acontecer se Saturno estivesse entre a Terra e o Sol, como vemos acontecer com Mercúrio e Vênus. Ela foi obtida pela sonda Cassini quando estava sobrevoando Saturno bem acima do plano dos anéis.

A Via Láctea:

cassiofoto5.jpgEsta foto mostra a Via Láctea em uma imagem panorâmica de 360 graus. Ela foi composta por 30 fotos obtidas há dois anos atrás em um dos pontos mais escuros dos EUA, o Vale da Morte na Califórnia. O bloco de pedra à direita foi arrastado do sopé do morro ao fundo por ventos fortes durantes tempestades.

HD 189733b:

cassiofoto6.jpgAqui uma imagem que marca pela importância. Trata-se do primeiro mapa de temperatura de um exoplaneta. Estamos tratando de meteorologia extraplanetária! Apesar de bem tosca ainda, esta imagem é um marco no caminho (sem volta) para obtermos imagens de exoplanetas. Um passo fundamental neste caminho será dado em 2009 com o lançamento da missão Kepler.

Nebulosa de Carina:

cassiofoto7.jpgEsta panorâmica da Nebulosa de Carina impressiona pelos detalhes obtidos. Na sua versão em alta resolução é possível identificar diversos aglomerados de estrelas no meio de tanto gás difuso. Estrelas nascendo, estrelas em fim de vida, tudo nesta imagem. Aliás, Eta Carina (a esquerda do centro) já deu os primeiros sinais de que vai explodir nos próximos mil anos. Esta foi umas das conclusões apresentadas no congresso que participei agora em dezembro. Segundo Nathan Smith, autor desta foto inclusive, de repente ela até já explodiu… Uma versão em altíssima resolução desta foto pode ser obtida em: http://antwrp.gsfc.nasa.gov/apod/image/0704/carina_hst_big.jpg

Kaguya:

cassiofoto8.jpgUma foto para marcar a volta das missões espaciais à Lua. Até agora apenas os norte americanos e os soviéticos mandaram sondas e astronautas para estudar a Lua, mas isso já começou a mudar. Aqui está uma seqüência de imagens da sonda japonesa Kaguya que parece mostrar a Terra se pondo a partir da Lua. Mais recentemente a sonda chinesa Chang´e I também mandou fotos da superfície da Lua e podemos esperar que a Índia se junte a este clube em breve.

Plêiades:

cassiofoto9.jpgEsta foto veio do telescópio espacial Spitzer e mostra as Plêiades. As Plêiades também são conhecidas como “Sete Estrelas” e é um aglomerado de estrelas jovens que ainda dissipa o gás que as formou. Esse material pode ser visto nesta composição de cores. Várias estrelas semelhantes ao nosso Sol foram identificadas neste aglomerado, todas com grande potencial de formarem planetas. O telescópio Spitzer exauriu sua carga de hélio depois de cinco anos de serviços prestados e agora está funcionando parcialmente. Em breve deve ser desativado.

Vela:
cassiofoto10.jpgÉ verdade que esta imagem é um tanto antiga, mas ela foi reprocessada para ressaltar algumas propriedades de remanescentes de supernova. Estes remanescentes são restos de uma explosão de supernova, neste caso a supernova de Vela que explodiu há 11.000 anos, rica em material processado quimicamente. Uma grande parte da tabela periódica (todos os elementos mais pesados que o ferro) é criada em explosões de supernova. Esses remanescentes espalham todo este material no espaço e depois ajudam a formar outras estrelas, planetas e vida!

Io e Europa:

cassiofoto11.jpgA sonda New Horizons foi lançada em direção à Plutão e Caronte e deve chegar por lá em julho de 2015. Ainda no Sistema Solar, ela passou por Júpiter para obter um empurrão e aproveitou para calibrar seus instrumentos. Esta foto é uma montagem que mostra a Lua Europa e Io com pelo menos 3 vulcões ativos.

cassiofoto12.jpgFinalmente o cometa MacNaught que deu show no começo deste ano. Eu mesmo só o vi durante pouco mais de um minuto numa brechinha nas nuvens ao entardecer. A cauda espetacular só vi mesmo em fotos. Esta aqui mostra personagens em diferentes escalas: auroras (fenômeno atmosférico), o cometa e sua cauda fantástica (objeto em nosso Sistema Solar), as estrelas no céu da Nova Zelândia (todas na nossa Galáxia) e duas galáxias vizinhas, a Pequena e Grande Nuvens de Magalhães.

Bom, 2007 ainda não acabou e pode ser que ainda pinte mais uma imagem bacana até o dia 31. Se este for o caso ela aparece aqui também!

Chuva de meteoros na agenda astronômica

Postado por Cássio Barbosa em 13 de Dezembro de 2007 às 12:00

Aloha!

O congresso aqui em Kaua’i está muito bom. Muita coisa bacana, muitas palestras de revisão e resultados novos. Entre uma palestra e outra lembrei que a partir de quinta-feira (13/12) temos a chuva de meteoros Geminídeos e não podia deixar de postar sobre ela.

Esta chuva está associada ao asteróide Phaethon, que passou a uns 17 milhões de quilômetros da Terra nesta última segunda-feira (10/12). Logo em seguida, já na terça ou quarta-feira, a Terra entrou no rastro de destroços deixado pelo asteróide e a chuva efetivamente já começou. Espera-se que essa chuva tenha um máximo entre a meia-noite de quinta e o amanhecer de sexta-feira, 14/12, mas a atividade atual indica que ainda na noite seguinte podemos esperar dezenas ou centenas de meteoros por hora!

Um fato intrigante é que asteróides não dão origem a chuvas de meteoros. Então, por que Phaethon é diferente? Porque ele tem característica que lembram a de um cometa: sua órbita, por exemplo, é tão elíptica que faz com que ele se aproxime mais do Sol do que Mercúrio o faz. Isso a cada um ano e cinco meses!

Desse jeito não há cometa que dure, então o mais provável é que Phaenthon seja um cometa extinto. Em outras palavras, um cometa que de tanto passar tão perto do Sol perdeu todo o seu material volátil e agora é só um pedregulho, ou um asteróide.

Quem quiser apreciar a chuva de meteoros, basta procurar um local escuro. A Lua está em fase crescente, de modo que deve se pôr cedo, garantindo um céu escuro. Olhe para nordeste — para ajudar você verá Marte com um brilho alaranjado bem intenso. Não é preciso nenhum instrumento, os meteoros vão passar cruzando o céu e vão parecer que saem da constelação de Gêmeos. Por isso a chuva deve ser mais intensa a partir da meia-noite de quinta para sexta. Nesse horário, o céu deve se parecer com esta carta celeste.

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Ela foi criada para São Paulo, de modo que, se você estiver mais ao norte de São Paulo, Gêmeos estará mais alto no céu.

Boa sorte!

Não deu!

Postado por Cássio Barbosa em 10 de Dezembro de 2007 às 09:08

Pois é, depois de achar que daria para fazer alguma coisa, já que o tempo tinha melhorado (pelo menos aparentemente), desci. A rodovia que leva até os observatórios continua fechada e descobri que o problema está mais sério do que parecia.

Não há previsão de que a rodovia esteja transitável por causa da neve e do gelo até sábado, pelo menos. É quando deve subir uma equipe de engenheiros para avaliar se houve algum dano ao prédio, ou ao telescópio em si. Chegando ao escritório em Hilo, participei de uma reunião onde ficou decidido que nenhuma observação vai ser feita neste final de semana. Mesmo que seja possível abrir a cúpula (ninguém sabe como as engrenagens vão se comportar a –10 ºC), a quantidade de neve e gelo voando para dentro do prédio vai certamente danificar os instrumentos. Bom, não é sempre que dá certo, fica para a próxima!

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Enquanto eu ainda estava no Hale Pahaku almoçando, vi uma equipe do corpo de bombeiros, uma equipe de resgate e alguns policiais, quase 20 pessoas ao total. Além disso, um helicóptero sobrevoava a região incessantemente, o que é bem raro. Devido à altitude, somente helicópteros militares sobrevoam o Mauna Kea, se for preciso, pois se algum deles precisar pousar não há ar suficiente para fazê-lo decolar! Não entendi o que se passava, mas percebi que algo de bom não era. No final desta reunião fiquei sabendo que uma pessoa estava desaparecida depois da tempestade de neve. Ela estacionou o carro no centro de visitação e saiu para uma caminhada, coisa bastante popular por aqui. Só que não voltou ao anoitecer. Vocês podem na foto do post anterior que o tempo fechou para valer e mais para cima do alojamento os ventos atingiam os tais 120 km/h que falei, e a temperatura, por si só, bateu em -5 ºC. Apesar da torcida, os prognósticos não são bons.

Fiquei em Hilo até domingo, e aí comecei a segunda parte da viagem: um congresso na ilha Kaua’i, onde foi filmado o “Parque dos Dinossauros”. Casa mesmo, só dia 17.

Tempos sombrios

Postado por Cássio Barbosa em 07 de Dezembro de 2007 às 10:02

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Hoje, lá pelas 18 horas locais (umas 2 da manhã pelo horário de Brasília) o tempo estava nesse pé. Fechado, chuvoso e muuuito frio. No alto do morro dava para ver que a chuva já tinha congelado no solo. A estrada continua fechada e agora todos os observatórios foram evacuados por causa do vento: ele chegou a 120 km/h! De lá do escritório em Hilo veio a recomendação de descer. É provável que nem na sexta o tempo melhore, mesmo porque a estrada vai continuar fechada por causa do gelo.

Agora que vim para meu quarto (01h30 da manhã, ou 09h30 no Brasil) o céu estava lindo! Essas nuvens tenebrosas se foram e o céu está limpinho. Claro, tudo porque me mandaram descer pela manhã. Bom, vou tentar negociar, mas acho que serei obrigado a ir mesmo.

Aclimatando e torcendo

Postado por Cássio Barbosa em 06 de Dezembro de 2007 às 12:12

Quarta-feira eu passei um tempo no escritório do Gemini (foto abaixo), ainda conversando sobre os procedimentos de montagem da fila de observações. Essa fila é a seqüência de projetos que vão ser observados a cada dia, respeitando a classificação no ranking dos projetos, as condições climáticas, observabilidade etc. É um trabalho fácil, mas muito chato — tanto que há um rodízio entre os pesquisadores para que ninguém fique mais do que uma semana nesse processo.

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Depois do almoço, peguei a estrada e me mandei para o Hale Pohaku. A viagem é bem tranqüila e leva menos de 2 horas. A estrada é bem interessante, pois sai do nível do mar e termina no Hale Pohaku a 3.000 metros (eu achei que era 3.600, mas me enganei). Dá para ver como a vegetação vai mudando conforme vai ficando mais alto. Começa com uma floresta tropical, típica de regiões quentes e úmidas (a precipitação em Hilo é na média 3.550 mm de chuva por ano), vai rareando para um clima mais seco, parecido com cerrado, até que somem as árvores.

Nisso a altitude é de aproximadamente 2.000 m. Até este ponto praticamente não se percebe a subida, a estrada é bem suave. Aí pega-se uma outra estrada e tudo muda, são ladeiras puxadas para subir, e o carro sofre. Bom, me deram um V6 para esta parte da viagem e o bicho não se incomodou. O que incomoda é que dá para perceber o ponteiro da gasolina afundando… Chegando no alojamento a vegetação se limita a gramíneas, mas a paisagem é fascinante.

Isso porque o Mauna Kea não é um vulcão que possui uma única cratera no topo. Ao longo do caminho dá para ver uns morros e, quando você fica acima do nível deles, vê que tem uma cratera dentro, e tem várias delas pelo caminho. Na foto abaixo dá para ver uma delas por entre as nuvens pesadas. Antes que alguém fique encanado, as luzes na imagem não são OVNIs — são reflexo da biblioteca no vidro.

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Bom, quando eu saí do escritório, ouvi o povo falando que o vento tinha atingido 110 km/h no alto do vulcão, e por isso acionaram o procedimento de evacuação do prédio. Normal, tem o Hale Pohaku para isso mesmo, é só descer e esperar o tempo melhorar. Na estrada eu cruzei com um comboio de carros do Gemini e pensei: “o-oh”. Cheguei aqui e só tinha eu pelo Gemini! Depois eu recebi um telefonema do escritório me perguntando se eu não queria voltar, pois as chances para a quinta-feira também são mínimas. Resolvi ficar, pois eu vou ter de aclimatar mesmo, então vai que o tempo abre e eu tenho de passar pelo processo todo de novo? Ah, fiquei também porque tem sorvete de graça!

Aqui, a 3.000 metros, as dicas são: beber muita água e mover-se devagar. Quando o organismo sofre uma mudança brusca de pressão, ele se adapta mais fácil realocando a água no corpo. Mantendo-se hidratado, o organismo tem material para deslocar, facilitando a adaptação. Antes que alguém reclame da explicação, ela está no manual de segurança.

Quanto a mover-se devagar, é óbvio: falta ar.

Subir uma escada não é tarefa simples, ainda mais carregando mala e laptop. O mané aqui subiu a escadaria carregado sem se tocar disso e quase não ficou em pé. A 4.200 metros esse cuidado é mandatório! Não consigo imaginar uma partida de futebol a 3.000 metros!

Por enquanto estamos assim, aqui no Hale Pohaku: temperaturas próximas de zero grau (sensação térmica abaixo de zero), muita nuvem, umidade alta e estrada fechada. Vamos ver como o tempo evolui esta noite.

Aloha!

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