Grupo estima ter lido 70% das 'letras' que compõem DNA do bicho.
Equipe acredita que seria possível reverter a extinção dessas criaturas.
Amostra de pêlo de mamute usada para decifração do genoma (Foto: Divulgação)
Os mamutes estão voltando, e o maior passo já dado para ressuscitar esses animais extintos durante a Era do Gelo foi comunicado nesta quarta-feira (19) por um grupo internacional de cientistas. A equipe conseguiu decifrar 70% do genoma do bicho -- as letrinhas que compõem a receita genética para recriá-lo.
O feito só pôde ser obtido graças a avanços recentes nas técnicas de leitura de DNA, que ao longo dos últimos 15 anos transformaram a decifração de genomas de missão hercúlea e bilionária a procedimento quase banal de processamento de dados.
Os resultados dão a medida exata do avanço tecnológico: as amostras de DNA de mamute estavam fortemente degradadas, tiradas do pêlo de indivíduos que morreram cerca de 20 mil anos atrás e foram preservados no gelo.
"Não havia cromossomos intactos na amostra de mamute", revelou ao G1 Stephan Schuster, da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos EUA, pesquisador que liderou o estudo, publicado na edição desta semana da revista científica britânica "Nature". "Todos os pedaços de DNA tinham apenas 100 a 150 pares de base cada um."
De grão em grão, no entanto, o mamute enche o papo. Juntando todos os pedacinhos, os cientistas "leram" mais de 4,1 bilhões de letras de DNA. Mas entraram aí também pedaços de genes que não pertenciam ao mamute, mas a contaminações de bactérias. Depois de um esforço de análise, constataram que 3,3 bilhões de letras de fato pertenciam ao genoma do mamute.
Restava colocar essas letrinhas na ordem correta. E os cientistas fizeram isso tomando por base o genoma do elefante africano, um parente próximo do animal extinto. No final, concluíram a tarefa constatando que possuíam cerca de 70% do genoma completo do mamute.
Não é batatinha. Até outro dia, ninguém acreditava que isso fosse possível. E mais: os pesquisadores vão continuar trabalhando, para atingir a meta dos 100%.
Esqueleto completo de mamute, em exposição (Foto: Divulgação)
Conclusões
Os resultados mostram algumas curiosidades sobre a evolução dos mamutes. Aparentemente, seu genoma é muito, muito parecido com o do elefante africano -- uma diferença de apenas 0,6%. É apenas metade da diferença encontrada entre o genoma humano e o do chimpanzé.
Apesar disso, os pesquisadores acreditam que a época em que viveu o ancestral comum do elefante moderno e do mamute foi mais ou menos a mesma em que viveu o "elo perdido" entre chimpanzés e humanos. Isso, na prática, quer dizer que o ritmo de mutações do genoma da família dos elefantes é bem menor do que o dos primatas.
Ilustração da extração do genoma do mamute a partir de animal congelado (Foto: Divulgação)
Para estabelecer essas comparações, os pesquisadores colocaram lado a lado os segmentos obtidos do genoma do mamute com o genoma seqüenciado de James Watson -- o polêmico cientista americano que foi co-descobridor da estrutura do DNA, na década de 1950. "Ambos indivíduos parecem ter grandes personalidades", brinca Schuster.
Outra coisa interessante antevista pelos cientistas é a possibilidade de estudar diferenças genéticas entre dois mamutes. No atual estudo, eles trabalharam com amostras de dois animais diferentes. O grupo especula que será possível investigar até mesmo possíveis sinais genéticos que expliquem a extinção dessas criaturas.
Revertendo a extinção
A perspectiva mais empolgante, entretanto, é a de no fim das contas usar a informação genômica obtida para promover a "ressurreição" dos mamutes.
Ao ser questionado sobre a possibilidade de fazer isso, Schuster se mostra otimista. "Sim, é possível, porque com nossos dados alguém pode fazer engenharia reversa num genoma de elefante, introduzindo as mudanças características do mamute. Isso depois seria introduzido num embrião, que seria implantado numa elefoa, que serviria de barriga de aluguel", afirma o cientista.
Por ora, entretanto, o grupo está focado em extrair mais informações genômicas de outros animais extintos. "Nós já provamos que isso funciona para muitas espécies", afirma Schuster. "Logo publicaremos esses novos trabalhos."
Nenhum comentário:
Postar um comentário