Após a publicação da matéria ´Cidade Nova Atlântida - Embate ganha apoio político´, na edição de 18 de julho do Diário do Nordeste, o MPF no Ceará, através de sua Assessoria de Comunicação, se posicionou, por e-mail, relatando o seguinte: ´Desde junho de 2005, foi solicitado à Fundação Nacional do Índio (Funai) que iniciasse os estudos de identificação e delimitação da terra ocupada pelos Tremembés de São José e Buriti. Em dezembro de 2007, o procurador da República Ricardo Magalhães reiterou a mesma recomendação, dando o prazo de 90 dias para o início dos estudos´.
Até agora, muito se discute, mas, nada de concreto foi feito. A Funai, por sua vez, informou, também através de e-mail, que ´inseriu no planejamento de 2008, o início dos trabalhos de identificação e delimitação da referida terra indígena. No mês de junho último, o Sr. Aloísio Guapindaia, diretor de Assistência recebeu representantes do Estado do Ceará e da empresa responsável pelo empreendimento Nova Atlântida´.
Índios se defendem
Segundo a líder dos Tremembés de São José e Buriti, Adriana Carneiro de Castro, a afirmação dos membros da Comissão de Turismo da Câmara Federal, de que uma Organização Não Governamental (ONG) alicia pessoas na região para se passarem por índios, não é verdadeira. ´Eles [empresários e políticos] ficam dizendo que não somos índios. Não existe essa ONG. Isso é coisa que botam para desmentir a gente e pegarem as nossas terras´, defende Adriana Castro.
Ela ressalta, ainda, que seu povo tem passado por preconceito da população local e sofrido ameaças do grupo espanhol. ´Esse terreno aqui era livre. Antes de começarem a cercá-lo em 2002, vivíamos em perfeita paz. Hoje, por conta da forte resistência, muitos parentes nossos não se identificam mais como índios e passaram até a trabalhar como peões no Nova Atlântida. Mas, nós vamos lutar pelas nossas terras. É de onde tiramos a sobrevivência´, afirma a líder dos Tremembés de São José e Buriti.
Projeto com sustentabilidade
Procurado pela reportagem do Diário do Nordeste, o Grupo empresarial espanhol Afirma (novo responsável pelo projeto de R$ 15 bilhões, desde o início deste ano), se posiciona, através de sua representação HRA Brasil, dizendo ter interesse em desenvolver a área com sustentabilidade, uma vez que, até hoje, as localidades de São José e Buriti não dispõem de rede elétrica, nem saneamento básico. ´O que existe é um empreendimento que se preocupa com melhorias humanas. O masterplan do projeto irá contemplar cerca de 130 famílias que residem na região, com casas, escolas e empregos, de origem indígena ou não. Dentro dessas famílias, há uma pequena resistência, motivada por algum tipo de líder da Associação Missão Tremembé. O que precisa é a Funai se pronunciar e demarcar a área´.
FIQUE POR DENTRO
Terras indígenas: o que prevê a Constituição
O capítulo VIII da Constituição Federal de 1988 refere-se às questões indígenas. O artigo 231 afirma que ´são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens´.
Caso venha a ser comprovado que a área onde se pretende erguer o Cidade Nova Atlântida seja de fato indígena, as terras tornam-se indisponíveis para a construção do empreendimento. Tanto políticos cearenses, como os empresários do Grupo espanhol Afirma, defendem que não há índios no local.
EM DEFESA DOS ÍNDIOS
Abaixo-assinado internacional solicita demarcação
Um abaixo-assinado pedindo a demarcação urgente dos territórios indígenas dos Tremembé e dos Tapeba foi apresentado pelo sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, durante o seminário ´Lutas indígenas no Brasil: Memórias, Territórios e Direitos´, que ocorreu recentemente em Portugal. O conteúdo do documento é extenso. Começa relatando a história da etnia Tremembé de Itarema, Acaraú e Itapipoca, bem como dos Tapeba de Caucaia. Em seguida, reforça o que diz a Constituição Brasileira de 1988, que reafirmou o direito originário das terras indígenas, cabendo à União a demarcação de tais territórios.
O documento apresenta posição contrária à construção do complexo turístico em Itapipoca: ´Aceitar um projeto turístico que ameaça a integridade física e cultural dos Tremembé é aceitar a continuação e uma nova modalidade de colonialismo capitalista que ameaça devastar importantes bens naturais e humanos do País´. O texto também conta com a assinatura de brasileiros: o antropólogo Lino João de Oliveira Neves, a socióloga Cecília MacDowell Santos, a psicóloga Edileusa Santiago do Nascimento e o jornalista Nilton José dos Reis Rocha. Dentre os destinatários do documento estão o presidente Lula, o governador Cid Gomes, o ministro da Justiça, Tarso Genro e o presidente da Funai, Márcio Meira.
Fonte:diariodonordeste.com.br