Ataque a prédio da ONU em Gaza foi reação a fogo palestino, diz Israel
Ataques israelenses feriram 3 funcionários da ONU e 2 jornalistas.
Hospital também foi atingido durante o cerco à Cidade de Gaza.
O premiê de Israel, Ehud Olmert, disse que o ataque de Israel à sede de uma agência da ONU nesta quinta-feira (15) na Cidade de Gaza ocorreu em reação a disparos de atirados palestinos, feitos de dentro do prédio.
Três funcionários da agência ficaram feridos. Segundo um funcionário, os armazéns do complexo pegaram fogo, e toneladas de ajuda humanitária foram destruídas.
"É absolutamente verdade que nós fomos atacados a partir daquele lugar", disse Olmert na TV isralense. "Mas as consequências foram muito tristes, e eu peço desculpas."
Ataques israelenses ao "coração" da Cidade de Gaza nesta quinta atingiram também um prédio que abriga redações de TVs e agências estrangeiras e um hospital.
Uma explosão atingiu um bloco de edifícios que abriga as sucursais de várias organizações de mídia árabes e ocidentais, inclusive da agência Reuters. Dois cinegrafistas palestinos de um canal de Abu Dhabi ficaram feridos, segundo testemunhas.
Jornalistas da Reuters disseram que a explosão, provocada por um projétil israelense, ocorreu no 13º andar da torre Al-Shurouq Tower, no bairro de mesmo nome. Os jornalistas deixaram o prédio depois do ataque.
O andar atingido abriga uma TV local. O escritório da Reuters fica um andar abaixo. O prédio abriga ainda a rede de TV americana Fox, a britânica Sky News, a luxemburguesa RTL e as árabes Al Arabiya e MBC.
Um hospital da cidade, do Crescente Vermelho (versão islâmica da Cruz Vermelha), também pegou fogo após um ataque israelense, segundo testemunhas e responsáveis pelo centro médico. Pelo menos quatro disparos de artilharia atingiram o prédio. Não há informações sobre vítimas.
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Instalações da ONU já haviam sido atingidas por fogo israelense durante a ofensiva. Em 6 de janeiro, ataques a escolas mataram mais de 40. Dois dias depois, um comboio humanitário foi atacado.
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Dezenas de tanques israelenses apoiados pela aviação entraram na manhã desta quinta, pela primeira vez, em profundidade em um bairro da Cidade de Gaza onde os soldados judeus travaram violentos combates com ativistas palestinos desta área controlada pelo movimento radical Hamas.
Os tanques avançaram até o centro do bairro residencial de Tal al-Yawa, no subúrbio da Cidade de Gaza.
As forças israelenses enfrentaram milicianos palestinos que atiravam morteiros e foguetes em sua direção. Uma coluna de tanques se posicionou em um parque público no centro do bairro. Centenas de famílias palestinas fugiram da área.
Veículos blindados também entraram em outros dois bairros de Gaza, em Al-Shujaiya e Zeitun, onde também foram registrados combates.
A aviação de Israel também realizou ataques no norte da Faixa de Gaza. Uma mulher e os três filhos morreram em uma destas operações em Beit Lahya, segundo fontes médicas.
Os grupos armados palestinos também prosseguiram com os lançamentos de foguetes contra o sul de Israel. De acordo com o Exército, ao menos 14 foguetes disparados a partir da Faixa de Gaza caíram na manhã desta quinta-feira no país, sem provocar vítimas. Uma casa foi atingida em Sderot, a apenas cinco quilômetros da Faixa de Gaza.
Desde o início da ofensiva israelense na Faixa de Gaza, em 27 de dezembro, em resposta aos disparos de foguetes contra o Estado de Israel, 1.054 palestinos morreram, incluindo 355 crianças e 100 mulheres, e mais de 4.870 foram feridos, de acordo com o último balanço divulgado pelo diretor dos serviços de emergência em Gaza, Muawiya Hassanein.
Os disparos de foguetes contra o sul Israel mataram quatro civis desde 27 de dezembro. No total, 10 militares também morreram desde o começo da ofensiva.
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O líder do governo do Hamas na Faixa de Gaza, Ismail Haniyeh, pediu nesta quinta à opinião pública ocidental que pressione Israel para acabar com a ofensiva militar contra o território palestino, lembrando as condições do grupo radical para um cessar-fogo.
"Escrevo este artigo aos leitores ocidentais em todo o espectro social e político enquanto a máquina de guerra israelense continua massacrando meu povo em Gaza", afirma Haniyeh em uma carta aberta com o título "Minha mensagem ao Ocidente: Israel deve cessar a matança", publicada na edição desta quinta-feira do jornal britânico "The Independent".
"Os palestinos estão consternados ao ver que os membros da União Européia não consideram este obsceno cerco uma forma de agressão", afirma Haniyeh, antes de acrescentar que o movimento islamita aceitaria um cessar-fogo com condições "claras e simples" que incluem o fim do bloqueio israelense.
"Israel deve acabar com sua guerra criminal e a matança de nosso povo, cessando totalmente e sem condições o cerco ilegal da Faixa de Gaza, voltando a abrir os pontos de passagem da fronteira e se retirando completamente."
Ao mesmo tempo, a movimentação diplomática mundo afora dava a entender, na quarta-feira, que o esperado cessar-fogo pode estar próximo. Fontes que falaram à Associated Press sob anonimato disseram que a trégua negociada pelo Egito seria de dez dias.
Um porta-voz do premiê de Israel, Ehud Olmert, disse que Amos Gilad, veterano funcionário do ministério israelense de Defesa, estaria no Cairo na quinta-feira para negociar a trégua.
O Egito informou que vai transmitir a Israel a resposta do Hamas ao plano de cessar-fogo em Gaza, anunciou na quarta o ministro egípcio de Relações Exteriores, Ahmad Abul Gheit. Ele disse ter esperanças de que "as coisas se movam" em relação ao processo de paz.
Fontes diplomáticas citadas pela agência egípcia Mena disseram que o Hamas teria reagido "favoravelmente" à proposta.
O chanceler francês, Bernard Kouchner, também disse que "os contornos de um cessar-fogo se definem".
Ban Ki-moon se reúne com a ministra das Relações Exteriores, Tzipi Livni, com o primeiro-ministro Ehud Olmert e o presidente Shimon Peres, antes de viajar a Ramallah (Cisjordânia) na sexta-feira para um encontro com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas.
O presidente da Assembleia Geral da ONU, o nicaraguense Miguel d'Escoto, acusou Israel de "violar o direito internacional" com a ofensiva. Ele voltou a pedir o cumprimento da resolução do Conselho de Segurança da entidade, que pede um cessar-fogo imediato seguido de negociações para uma paz duradoura.
Com informações de AFP, Reuters, AP e EFE