Quebrando a cabeça sobre o quão quente e molhado poderia ser o planeta Marte, os cientistas agora enxergam sinais minerais de que o “planeta vermelho” foi, pelo menos ocasionalmente, molhado durante os primeiros dois bilhões de anos de sua existência.
Em artigo na edição de novembro do jornal Geology, cientistas trabalhando com relatórios do Mars Reconnaissance Orbiter da Nasa relataram ter observado depósitos de opalas e minerais semelhantes espalhados pela superfície de Marte.
Os minerais opalas pertencem a uma classe conhecida como sílicas hidratadas, com moléculas de água misturadas em minerais como o quartzo. A formação de sílicas hidratadas requer água em estado líquido.
O mais interessante é que os depósitos de opalas ficam em áreas que parecem ter se formado há cerca de dois bilhões de anos. Anteriormente, naves espaciais haviam detectado outros minerais carregados de água, como argila, em regiões que datavam mais de 3,5 bilhões de anos.
“A água era mais espalhada e extensa em tempos mais jovens do planeta”, diz Scott L. Murchie, cientista de equipe no Laboratório de Física Aplicada do Jonhs Hopkins e principal pesquisador com o espectrômetro de satélite, que encontrou a evidência do mineral opala. Marte, como os outros planetas do sistema solar, tem cerca de 4,5 bilhões de anos de idade.
Em julho, Murchie e outros cientistas relataram que o satélite havia detectado vastos depósitos dos minerais como argila nas áreas mais velhas. As imagens também mostraram antigos leitos de lagos com acúmulos de minerais, indicando que a água persistiu por milhares de anos.
A presença de água em Marte é conhecida há muitos anos. Suas calotas de gelo, facilmente visíveis do espaço, são em grande parte feitas de água congelada. A questão sem resposta é com que freqüência o gelo derretia. A nave Phoenix Mars Lander, agora se aproximando do final de sua missão de seis meses, está investigando se o gelo do ártico derreteu no último milênio.
A possibilidade mais intrigante é a de que Marte, com menos de um bilhão de anos, pudesse ser quente o bastante para ostentar lagos e oceanos de água líquida e, com isso, a possibilidade de vida. Os acidentes geográficos do planeta oferecem provas convincentes de água corrente: imensos cânions, canais e deltas de rios secos.
“Acho que a maioria das pessoas concorda que havia grandes quantidades de água em sua superfície nos primeiros cem milhões de anos”, afirma Maria Zuber, professora de geofísica no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). “Mais para frente aparece a confusão, embora eu esteja confusa com a coisa toda. Mas é isso que torna o assunto interessante”.
Alguns cientistas sugerem que raras enchentes catastróficas esculpiram os acidentes geográficos, seja nas conseqüências do impacto de um asteróide ou cometa ou pela água subterrânea -- derretida por calor vulcânico residual -- brotando na a superfície.
Aqueles que acreditam que a água líquida era mais persistente ficaram perplexos quando naves anteriores detectaram poucas evidências de carbonatos, minerais que deveriam ter se formado em grandes quantidades com as reações entre dióxido de carbono e água líquida.
Mas dados coletados pelas duas sondas, Spirit e Opportunity, mostram um ambiente altamente ácido que atrapalhou a formação de carbonatos. “Essa é uma parte da história sobre a qual a maioria concorda”, diz Zuber.
As duas sondas também encontraram sinais de água no passado. A Opportunity encontrou sulfatos hidratados nas rochas do Meridiani Planum. A Spirit descobriu minerais similares aos vistos do espaço pela Reconnaissance Orbiter.
Mas os cientistas ainda tentam explicar a transição de muita água para o clima frio e seco atual. Na verdade, eles ainda tentam explicar como o planeta chegou a ter muita água líquida. Mesmo se Marte fosse envolvido por uma espessa atmosfera de dióxido de carbono expelida por gigantescos vulcões, climatologistas tiveram problemas em simulações por computador gerando aquecimento global o bastante para empurrar as temperaturas acima do ponto de fusão do gelo.
James F. Kasting, professor de geociência na Penn State University, acredita que pode ter desvendado como aquecer Marte. De acordo com a pesquisa, que será apresentada em dezembro num encontro da União Americana de Geofísica, a chave pode se o dióxido de nitrogênio.
Em seus modelos climáticos, o dióxido de carbono realmente agiu como um gás de estufa, prendendo o calor próximo à superfície, mas também refletiu extensões de ondas de luz mais curtas no espaço, limitando a quantidade de aquecimento. Seus modelos atingiram o pico em cerca de 40 graus negativos de Fahrenheit. O dióxido de nitrogênio, que também é liberado por erupções vulcânicas, reduziria o reflexo de Marte. Com mais luz sendo absorvida, as temperaturas saltariam para 100 graus. “Isso mostra mais do que precisamos”, afirma Kasting.
Segundo ele, ainda é preciso demonstrar que o dióxido de nitrogênio se mesclaria à atmosfera, ao invés de permanecer em bolsões ao redor de vulcões.
Mesmo se os cientistas solucionarem a questão da água, eles têm outro problema: o que aconteceu com o ar marciano? Os modelos climáticos sugerem que Marte, no início, tinha uma atmosfera mais densa que a da Terra. Hoje, é uma leve brisa.
“Bem, nós não sabemos”, diz Zuber. “Algum dia vamos desvendar esse mistério. A minha lista de coisas a fazer tem um monte de itens”.
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