Segundo ele, McCain acredita na ideologia dos EUA como império global e polícia do mundo.
Pesquisador Matt Welch diz que candidato republicano é diferente do presidente.
Acusado de ser uma cópia a George W. Bush por Barack Obama, seu rival democrata, o candidato republicano John McCain é um político diferente do atual presidente dos Estados Unidos, segundo o autor de sua biografia política, Matt Welch. Diferente “para o bem e para o mal”, disse Welch em entrevista exclusiva ao G1, por telefone.
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O candidato republicano à Presidência dos EUa, John McCain (Foto: AFP)
“Para o mal”, segundo ele, porque é um político “muito, muito, muito mais intervencionista de que Bush jamais foi”, em relação à política externa. Para Welch, McCain acredita que os Estados Unidos têm que reforçar seu papel de império global, polícia do mundo, mesmo que precise continuar com a doutrina de guerras preventivas.
“Para o bem”, porque se trata de um unificador, capaz de trabalhar junto com adversários políticos para atacar problemas que considera reais, como o aquecimento global, que foi ignorado pelo governo Bush.
Autor de “McCain – the myth of a maverick” (McCain - o mito de um dissidente, não publicado no Brasil), Welch diz simpatizar com a personalidade de McCain, mas admite que não vai votar nele por “discordar politicamente”. Segundo ele, McCain tem, sim, chances reais de vencer as eleições, mas teria ainda mais, se os Estados Unidos fossem atacados por terroristas até novembro.
G1 – O candidato democrata Barack Obama tem se referido à candidatura de John McCain como o terceiro mandato de George W. Bush. Pode-se dizer que Bush e McCain são iguais?
Matt Welch – Não, e Obama tem usado esta expressão justamente por que é um ataque violento contra McCain, que “tira sangue” dele. A população norte-americana está tão cansada de Bush e do Partido Republicano, que esta comparação pesa fortemente contra ele.
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A capa do livro escrito por Matt Welch (Foto: Divulgação)
Na verdade, McCain é diferente de Bush, para o bem e para o mal. Em relação à política externa, que tem sido um dos assuntos mais importantes da atual campanha, McCain é muito, muito, muito mais intervencionista de que Bush jamais foi.
Em 1999, McCain disputou a candidatura republicana com Bush, e ele era a escolha preferida dos neoconservadores, os mesmos que tiveram uma enorme influência sobre Bush depois dos atentados de 11 de Setembro. McCain sempre foi um defensor da idéia de guerra preventiva, bem antes de ela se tornar a doutrina do governo Bush. Ele é muito mais beligerante em relação aos países que considera uma ameaça, como a Rússia, o Irã, a China. Isso faz parte da sua formação militar, que vê os Estados Unidos como um império global. Ele acredita na ideologia de que os Estados Unidos são a polícia do mundo, são responsáveis pela segurança global. Bush acabou agindo desta forma, mas nunca foi um adepto desta ideologia, como McCain. Para quem vê isso como algo negativo, McCain é diferente de Bush para pior.
Por outro lado, ele acredita em problemas urgentes que são ignorados por Bush, como o aquecimento global. Ele tem uma personalidade mais unificadora, capaz de se aproximar dos adversários políticos. Além disso, ele também pode ser descrito como um intervencionista na política interna, na economia norte-americana, o que o aproxima dos democratas.
G1 – Levando em consideração a oposição popular à atual guerra, como McCain vai lidar com esta característica intervencionista e beligerante em sua campanha?
Welch – Ele vai fazer uma campanha ambígua. Ele já começou a insistir que é mais moderado de que Bush em relação à política externa, alegando que já esteve numa guerra e que é contra guerras, mas não vai ceder completamente.
McCain conquistou a candidatura republicana com apoio de eleitores independentes e democratas, então ele precisa se descolar dessas características bélicas, para não perder o voto dessas pessoas. Ao mesmo tempo, ele não vai deixar de lado sua personalidade totalmente. É uma postura esquizofrênica, difícil.
G1 – O senhor acha que McCain tem chances reais de vencer a eleição?
Welch – Sim. Não apostaria numa vitória dele, mas tenho que admitir que a população norte-americana, mesmo os críticos da política externa de Bush e de McCain, confia mais na capacidade de McCain de que na de Obama em relação à guerra. Esta confiança, esta noção de sua capacidade de lidar melhor com a segurança nacional, pode ajudá-lo. Acho, entretanto, que sua maior chance de vencer é se houver um atentado terrorista nos Estados Unidos antes da eleição. Se houver algo que faça a população temer pela segurança, sua campanha será muito reforçada.
G1 – Sua campanha vai se basear nesta questão da segurança?
Welch – Sim. Esta é uma das coisas mais interessantes da campanha que estamos começando a assistir, são dois candidatos com visões completamente diferentes sobre o Iraque e a política externa norte-americana. Vai ser uma escolha de opções muito claras, e este vai ser o principal tópico da campanha.
G1 – O presidente Bush vai ter alguma função na campanha?
Welch – Ele deve ajudar a arrecadar fundos. Ele deve aparecer pouco ao lado de McCain, para não dar munição ao argumento de Obama de que eles são iguais. Bush é muito pouco popular neste momento, e não deve fazer nada para atrapalhar McCain.
G1 – Acha que Obama e McCain vão se respeitar, ou vai ser uma campanha dura, de ataques violentos?
Welch – Vai ser uma campanha respeitosa. Os dois candidatos são irritantemente tranqüilos, e vão se distanciar de questões controversas. Acho que briga real vai estar entre os eleitores independentes, enquanto os dois vão se respeitar e discutir de forma clara, sem questões muito polêmicas.
G1 – Pessoalmente, o senhor simpatiza com John McCain? Pretende votar nele na eleição?
Welch – Não vou votar nele, acho, a não ser que queira aumentar as vendas do meu livro (risos). Apesar de não apoiar sua eleição, admito que simpatizo com ele, sim, e foi por isso que decidi pesquisar sua vida política para o livro. Acho que é um verdadeiro herói norte-americano, e um personagem interessante, de características muito humanas. Discordo de muitas de suas opções políticas, mas pessoalmente acho que ele é muito interessante.
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