domingo, 2 de novembro de 2008

Balanços positivos não impedem queda das ações de 'gigantes' nacionais

Empresas brasileiras 'encolheram' 40% este ano em valor de mercado.
Mesmo com lucro recorde da Vale, setor de mineração já perdeu 50%.

Laura Naime Do G1, em São Paulo

Quando uma empresa vai bem, diz a lógica do mercado que suas ações apontem valorização – afinal, empresas que dão lucro valem mais. Mas a crise financeira internacional mudou esse cenário: empresas com balanços saudáveis sofrem fortes perdas no mercado financeiro.

Nas duas últimas semanas, grandes empresas brasileiras, entre elas a "gigante" Vale do Rio Doce, divulgaram balanços que traziam lucros recordes no terceiro trimestre do ano. O mês de outubro, no entanto, terminou com perdas históricas para as companhias de capital aberto.

Nos primeiros nove meses do ano, o valor de mercado de 332 empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) "encolheu" R$ 876 bilhões (até 30 de outubro), segundo levantamento da consultoria Economatica – uma redução de mais de 40% em relação ao final de 2007. Confira os dados por setor na tabela abaixo:


Setor

Valor de mercado

em 31/12/2007

(em R$ bilhões)

Valor de mercado

em 30/10/2008

(em R$ bilhões)

Variação

(em R$ bilhões)

Petróleo e gás 436,048 232,410 -203,637
Finanças e seguros 417,802 260,488 -157,314
Mineração 284,754 142,680 -142,074

Outros

126,311 73,755 -52,556
Siderurgia e metalurgia 113,237 64,324 -48,913
Alimentos e bebidas 124,627 80,924 -43,702
Energia elétrica 178,718 135,673 -43,045
Construção 53,102 17,379 -35,724
Papel e celulose 45,292 16,717 -28,575
Transportes 53,853 26,972 -26,882
Comércio 48,866 28,791 -20,076
Telecomunicações 100,638 80,914 -19,724
Veículos e peças 26,298 13,102 -13,196
Máquinas industriais 18,607 8,602 -10,005
Têxtil 15,955 6,431 -9,523
Química 34,616 25,738 -8,878
Eletroeletrônicos 14,248 5,725 -8,523
Agro e pesca 3,770 1,719 -2,051
Software e dados 3,566 2,114 -1,452
Minerais não metálicos 0,99 0,467 -0,552
Total 2.101,00 1.225,00

-876,00

"É uma questão de expectativa. O investidor compra a ação pensando não só no rendimento que ela vai ter agora, mas sim no que vai acontecer nos próximos meses. E há muita incerteza com relação ao que vai acontecer", explica Francisco Pessoa, da LCA Consultores.

Segundo Celso Boin Junior, chefe da área de análise da Link Investimentos, o atual momento da economia "descola" os dados passados das perspectivas para o futuro.

"A lógica do mercado é ver se o resultado saiu como se esperava ou não. Acontece que hoje a expectativa não tem nada a ver com o passado. Uma empresa pode ter um lucro fantástico, mas, se a expectativa para o futuro é ruim, a ação vai cair."


E o futuro, apontam os especialistas, é incerto. "Há no mercado uma dúvida com relação a qual é o piso da bolsa. Há um risco de comprar ações e elas voltarem a cair, ou de ficar uma grande volatilidade. Num momento de incerteza, as pessoas saem (da bolsa). Tem um pouco de medo com o que está acontecendo agora", conclui o analista da LCA.

Setores

Na última semana, grandes bancos privados divulgaram resultados bastante positivos. O maior deles, o Bradesco, registrou lucro de R$ 1,91 bilhão no terceiro trimestre – o terceiro maior da história para o período entre bancos de capital aberto brasileiros. Já o lucro do Itaú ficou em R$ 1,8 bilhão. Isso não impediu que as duas instituições ficassem menores na bolsa: ambas perderam mais de 30% de seu valor de mercado.

"No caso dos bancos, houve a questão dos boatos. No meio da crise, ficou muito fácil espalhar boatos e correu muita informação de que havia bancos em dificuldades. Mas os balanços são a hora da verdade nesse ponto. Já é possível ter uma idéia mais clara do que aconteceu", explica Frederico Turolla, professor de economia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

As perdas no setor de mineração e siderurgia foram ainda mais expressivas: de janeiro a outubro, as empresas do grupo com ações negociadas em bolsa ficaram quase 50% menores – somado, o valor de mercado das companhias passou de R$ 284 bilhões, em dezembro de 2007, para R$ 142,68 milhões, em 30 de outubro último.

Entretanto, a maior das brasileiras do setor, a Vale do Rio Doce, divulgou lucro de R$ 12,4 bilhões no terceiro trimestre - resultado que superou em 166,9% os R$ 4,659 bilhões de igual período de 2007.

"Mesmo em empresas boas como a Vale, você a tem expectativa de que com o mundo crescendo menos, o preço do minério de ferro vá cair no ano que vem, o que deve prejudicar o resultado", diz Pessoa. "Nessas questões de commodities, que não se sabe qual é o piso."

Boin, da Link, aponta a dificuldade em precificar as ações das empresas em uma situação como a atual: "A mudança de cenário foi tão rápida e tão forte que os parâmetros que a gente tinha para fazer contas sumiram. Tem gente que acha que o preço das commodities vai subir, tem gente que acha que vai cair mais. Por isso é muito difícil responder essa pergunta no furacão da crise."

Saída de estrangeiros

Em parte descolado dos fundamentos do mercado, o movimento dos estrangeiros na bolsa também afeta de forma incisiva o valor das ações. Pressionados por perdas lá fora, esses investidores têm retirado maciçamente seus recursos do Brasil (em outubro, até o dia 29, US$ 6,1 bilhões haviam deixado o país pela conta financeira).

"Independente do que ele (investidor) acha da empresa, precisa mesmo vender. São momentos em que o fluxo se sobrepõe à análise fundamentalista. Ele vende tanto as ações das empresas que gosta quanto das que não gosta. Aí você vê uma regra geral de venda desconectada do fundamento", aponta Boin.

Para o economista Turolla, no entanto, a rápida desvalorização das ações trouxe um ajuste necessário ao mercado. "As ações estavam valorizadas demais para o valor real da empresa e a crise trouxe esse ajuste. Então no curto prazo o preço da ação foge dos fundamentos. Mas analisando no prazo de um, dois trimestres, você começa a ter valores bem mais reais", aponta.

Brasileiros relatam derretimento da economia na 'Terra do Gelo'

Islândia foi a primeira vítima da crise financeira internacional.
Quebra de bancos gerou filas nas agências e corrida aos supermercados.

Marcelo Cabral Do G1, em São Paulo

Do inglês ("Iceland"), Islândia se traduz literalmente como “Terra do Gelo”. Mas, nas últimas semanas, o país se viu no centro de uma verdadeira fogueira financeira que causou o derretimento de sua até então invejável economia, causado pela quebra dos principais bancos do país.

Editoria de Arte / G1

Essa ilha localizada no Atlântico Norte, com pouco mais de 300 mil habitantes, ganhou as manchetes dos maiores jornais globais como a primeira vítima “real” da crise que se iniciou no mercado imobiliário dos EUA e se espalhou pelo mundo com a falência do banco Lehman Brothers, em setembro.

Em meio à perplexidade de uma população que assistiu ao colapso, praticamente da noite para o dia, de algumas de suas instituições mais confiáveis, alguns brasileiros que trabalham ou estudam na ilha conversaram com o G1 sobre a situação da Islândia.

São relatos que mostram a frustação e a revolta de um país que antes era apontado como modelo de sucesso do liberalismo mundial e que se tornou motivo de piada na comunidade internacional – a Islândia chegou a ser “colocada à venda” no site de leilões eBay, por US$ 0,99.

(Continue a ler esta reportagem após o infográfico)

Uma das testemunhas do "derretimento" islandês é o analista de sistemas mineiro Pedro Ziviani, que há dois anos mora na capital Reikjavík.

Segundo ele, os primeiros efeitos da crise já eram sentidos antes da quebra dos bancos, com a crescente desvalorização da moeda local, a coroa islandesa. Como no país quase tudo é importado, os preços subiram ao longo do ano. Segundo ele, o leite chegou a aumentar 10% em uma semana.

A situação explodiu com o colapso dos bancos, no início de outubro. “Havia um sentimento de que a crise era séria, mas ninguém esperava o colapso que aconteceu”, diz ele.

É a mesma opinião do estudante André Motta Vieira, que está no país fazendo um intercâmbio. “Estava tudo normal, a crise era coisa dos Estados Unidos. De repente, o presidente apareceu na TV anunciando que o governo ia comprar os bancos”, relata.

O resultado é “um país em sentimento de ressaca". "É como uma festa que era só dos banqueiros, para a qual ninguém foi convidado, mas todos têm que sofrer a ressaca”, relata Ziviani.

Carrinhos cheios

Segundo os relatos dos brasileiros, logo após o anúncio houve um certo pânico entre a população, até porque o governo proibiu todos os tipos de transação com moeda estrangeira.

“Houve uma dedução de que começaria a faltar produtos. A maior rede de supermercados daqui fez uma declaração pública de que não conseguia importar nada, porque nenhum país do exterior aceita mais moeda islandesa, e eles não sabiam por quanto tempo mais conseguiriam manter os produtos nas prateleiras”, afirma o analista de sistemas.

O resultado? “Todo mundo enchia os carrinhos de supermercados”. Mas Ziviani garante que, apesar do susto, não chegou a ocorrer falta de produtos nas prateleiras. “Já ouvi algumas citações engraçadas por aqui, de gente preocupada que vai faltar alguma marca específica de chocolate."

Foto: Arquivo pessoal

O analista de sistemas Pedro Ziviani na Islândia: "medo" da falta de chocolate (foto: arquivo pessoal)

Os bancos não escaparam ilesos. Nos dias de intervalo entre a quebra das instituições e o anúncio de que o governo iria garantir os depósitos e as poupanças, as agências registraram filas de pessoas querendo “limpar a conta”, com medo de ficar sem dinheiro.

Dívidas e mais dívidas

Com o passar dos dias, a preocupação mudou de foco. De acordo com Ziviani, um terço da população tem dívida em moeda estrangeira, que era fartamente oferecida quando a divisa local estava valorizada.

O problema é que a coroa teve seu valor reduzido em mais de 300% frente ao dólar, o que fez com que essas dívidas disparassem. “Existe gente que tem que pagar quatro vezes o valor do financiamento que pagava antes”, diz.
Já Vieira conta que era muito comum as pessoas pegarem empréstimo nos bancos, pagando a perder de vista. "Na minha escola, tem gente de 17 anos com carro de luxo”. Mas, com a desvalorização, os tempos agora são outros: “Tenho uma colega que comprou uma TV de plasma como presente de aniversário para o pai, e agora não tem como pagar."

Foto: Arquivo pessoal

O estudante André Motta Vieira (esq.) às margens de lago em Reykjavík (foto: arquivo pessoal)

Com o sistema financeiro de pernas para o ar, a população busca refúgio em investimentos alternativos, como os relógios da marca Rolex. Único distribuidor da marca no país, Frank Michelsen afirma que registrou uma "alta significativa" das vendas.

"Os clientes querem algo que possam ter nas mãos. Não têm confiança nos números de seus computadores porque viram estes números virar fumaça", declarou Michelsen à agência de notícias France Presse.

Incerteza e êxodo

Segundo Ziviani, o principal sentimento atualmente entre a população é o de incerteza. “Todo mundo sabe que vai ter conseqüências sérias com a crise, mas ninguém sabe o quê. Tem muito boato sobre quais empresas vão quebrar e quais vão sobreviver."
A conseqüencia dessa incerteza é o êxodo. “Tem muito estrangeiro deixando o país. A desvalorização da moeda foi tão absurda que deixou de valer a pena ficar por aqui por razões econômicas." Segundo ele, um dos exemplos dessa tendência é a comunidade polonesa existente na ilha. “Hoje em dia se ganha mais na Polônia do que aqui”, compara.

Confira no vídeo ao lado reportagem sobre a crise na Islândia

E a recuperação não deve ser rápida: “Tenho um amigo que trabalha na maior empresa de transporte marítimo daqui. Ele me disse que tudo o que tem feito nos últimos dias é despachar carro para fora do país. As concessionárias estão devolvendo os carros para os fabricantes, porque não têm a menor chance de vender por aqui."

Desconto nos políticos

Como em outros lugares do mundo, a "raiva" da população acaba descontada nos políticos. Nas últimas semanas, começaram a acontecer passeatas de protesto, algo inédito naquela parte do mundo. A última reuniu 2 mil pessoas. Pode parecer pouco, mas representa 1% da população da capital. É como se 100 mil pessoas fizessem um protesto em São Paulo.

E as manifestações têm até hora marcada com antecedência: “Acontecem sempre aos sábados, às 15h. São manifestações em frente ao Parlamento, pedindo a renúncia do primeiro-ministro, do presidente do Banco Central e a entrada do país na União Européia”, relata o mineiro.

Novela mexicana

E por falar no presidente do BC da Islância, David Oddsson – ex-primeiro ministro e atual líder da autoridade monetária – se transformou numa das figuras mais impopulares do país com a crise, segundo narra Ziviani.

E com toques de novela mexicana: “Existe uma teoria da conspiração aqui que afirma que o presidente do BC deixou um dos bancos quebrar e depois o nacionalizou porque era inimigo político jurado do dono do banco”. Essa primeira quebra teria gerado um “efeito dominó”, contaminado as demais instituições financeiras e jogado o país no caos.

Uma consulta à imprensa britânica mostra que a teoria pode não ser tão maluca assim. De acordo com diversas reportagens publicadas ao longo do ano, Oddsson mantém um longo desentendimento com o milionário local Jón Ásgeir Jóhannesson, antigo dono do banco Glitnir.

Durante um processo que o milionário sofria na Justiça, Oddsson o acusou de tentar lhe subornar com 2,5 milhões de euros. Ásgeir foi condenado. Mais tarde, ele deu o troco: classificou a nacionalização do Glitnir de “o maior assalto à banco da história islandesa”.

Ficha suja

Outro político com a “ficha suja” na Islândia é o primeiro-ministro inglês, Gordon Brown. O mandatário britânico congelou os ativos de bancos da Islândia em território britânico – sob alegação de que o governo islandês se recusou a garantir os depósitos nessas unidades – usando uma lei criada originariamente para impedir a movimentação bancária de grupos terroristas.

Segundo o estudante Vieira, a situação gerou revolta na Islândia. Virou febre no país um site em que habitantes da ilha protestam contra Gordon Brown e postam fotos segurando cartazes com a frase “não somos terroristas”.

“Todo mundo começou a postar imagens. Na minha escola, todos ficavam se cobrando para avisarem os pais e parentes para colaborar”, diz ele. Atualmente, o site já possui mais de 70 mil adesões – quase um quarto da população do país.

Futuro sem brilho

Enquanto isso, o futuro parece não ser nada brilhante para a economia da ilha. Além das projeções oficiais pouco animadoras – um encolhimento de 10% no tamanho do Produto interno Bruto (PIB) e uma inflação de 30% anual –, existe o medo de uma quebradeira de empresas, que poderia gerar desemprego em massa.

Segundo o analista de sistemas Ziviani, quando os bancos quebraram, quase todas as empresas balançaram, pois tinham investimentos nas instituições. “O país é pequeno, mas as empresas são grandes. E elas investem uma nas outras, é uma teia de investimentos. É como um castelo de cartas: se cai uma, caem todas".

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Na última curva, Hamilton ganha o título e faz história no quintal de Massa

Brasileiro vence diante da torcida apaixonada em Interlagos, mas inglês chega em quinto e se torna o mais jovem campeão

GLOBOESPORTE.COM São Paulo


Agência
Reuters
Hamilton festejou um título dramático no Brasil

Diante de uma torcida apaixonada em Interlagos, Felipe Massa fez o que tinha de fazer. O brasileiro da Ferrari ganhou o GP do Brasil após comandar a prova de ponta a ponta. Ganhou, mas não levou. Por uma questão de segundos. Na última curva de uma corrida dramática, Lewis Hamilton pulou da sexta para a quinta posição e fez história no quintal de seu maior adversário. Sob vaias, o inglês da McLaren se tornou, aos 23 anos, o mais jovem piloto e o primeiro negro a conquistar um título da Fórmula 1.

Nas voltas finais, com o retorno da chuva, os brasileiros que lotavam o autódromo viram duas reviravoltas incríveis. Hamilton foi ultrapassado pelo alemão Sebastian Vettel, da STR, criando um cenário de título para Massa. A euforia da Ferrari durou apenas alguns segundos. Para ser campeão, o inglês precisava retomar a quinta posição. O banho de água fria na torcida veio na curva derradeira, quando Vettel e Hamilton, de uma só vez, ultrapassaram o alemão Timo Glock, da Toyota, que não tinha parado nos boxes para colocar os pneus de pista molhada.

Agência
AFP
Massa levou o troféu do GP, mas não o título

Com apenas um ponto de vantagem para o rival, o inglês calou Interlagos. Calou apenas por alguns instantes, porque o silêncio logo deu lugar às vaias. Ainda assim, Hamilton fecha a temporada com o título e a certeza de que é capaz de controlar a ansiedade em momentos decisivos. Durante a maior parte da corrida, ele foi cauteloso e se manteve distante dos rivais, tanto à sua frente como atrás. No fim, viveu momentos de tensão, mas o último sentimento foi de alívio e alegria, com um abraço emocionado na família.

Nos boxes da Ferrari, todos explodiram de alegria quando Massa cruzou a linha de chegada. A família do piloto, abraçada, pulava e festejava o título. A festa foi interrompida de forma brusca poucos momentos depois, com a notícia de que Hamilton ganhara a quinta posição. De um instante para o outro, as fisionomias eufóricas deram lugar à tristeza do título perdido.

O espanhol Fernando Alonso, da Renault, terminou em segundo, seguido por Kimi Raikkonen, companheiro de Massa na Ferrari. O brasileiro Rubens Barrichello chegou em 15º, e Nelsinho Piquet abandonou na primeira volta.

A corrida

Agência
Reuters
O brasileiro dominou de ponta a ponta

Na largada, Massa escapou na frente e as posições se mantiveram na primeira curva. Preocupado em não atrapalhar Hamilton, Kovalainen perdeu lugar para Vettel e Alonso. Com menos de uma volta, o fim de uma carreira: David Coulthard, da RBR, tocou a traseira de Nelsinho, rodou e deixou a prova. O brasileiro também abandonou, e o safety car foi acionado, aumentando ainda mais a carga de drama.

Após três voltas, ainda com a pista molhada, os pilotos voltaram a acelerar e a corrida prosseguiu. Alonso atacava Vettel, mas Hamilton mantinha a cautela, ciente de que a quarta posição lhe daria o título.

Na décima volta, Alonso, Webber, Vettel e Rubinho foram para os boxes e colocaram pneus secos. Logo depois, Massa seguiu o mesmo caminho - desta vez, com o pirulito manual, para evitar a lambança eletrônica de Cingapura. Aos poucos, os outros pilotos fizeram o mesmo, inclusive Hamilton.

Massa seguia tranqüilo na ponta

Em meio a um festival de deslizadas na pista, o cenário era perfeito para Massa. Na 12ª volta, o brasileiro liderava a prova, e Hamilton estava em sétimo. O inglês passou a sexto logo depois, ultrapassando Trulli. Na volta de número 17, com uma bela ultrapassagem, o inglês deixou Fisichella para trás e voltou para sua zona de conforto, em quinto lugar.

Àquela altura, quem voava na pista era Vettel, então segundo colocado. Na volta 21, ele fez o melhor tempo até aquele momento, virando em 1m14s565, nos calcanhares de Massa. O brasileiro deu o troco logo depois, com 1m14s161. O alemão fez sua segunda parada, e Alonso assumiu a segunda posição. Hamilton pulou para quarto e não era ameaçado por ninguém.

Agência
AP
Hamilton fez uma corrida cautelosa no Brasil
O inglês estava tão à vontade que roubou de Massa a volta mais rápida, com 1m14s159. A alegria durou pouco, porque Glock, então quinto colocado, virou em 1m14s057. Na volta seguinte, Massa retomou o posto de mais veloz da tarde, com 1m13s755.

Na 36ª volta, Massa foi para a segunda parada e os outros pilotos o seguiram, criando uma dança das cadeiras nas posições. Após os reabastecimentos, o brasileiro retomou a ponta, pressionado por Vettel, enquanto Hamilton se mantinha no confortável quarto lugar.

As posições se mantiveram até a 63ª volta, quando a chuva voltou. A oito voltas do fim, o drama se instalou em Interlagos. Todos os pilotos estavam com pneus de pista seca, o que aumentava o risco de um acidente. A torcida brasileira, obviamente, secava Hamilton, que passou a sofrer com a pressão de Vettel.

Raikkonen e Alonso pararam. Logo depois, a quatro voltas do fim, Hamilton e Massa foram para os boxes. O inglês gastou 6.1s na parada e voltou em quinto, enquanto o brasileiro ficou parado 5.5s e manteve a ponta.

O desfecho foi eletrizante. A torcida para que Vettel ultrapassasse Hamilton nas últimas voltas deu certo. em sexto, o inglês via o título escapar entre os dedos, mas a sorte mudou novamente. Ele pegou carona com o próprio Vettel e os dois ultrapassaram de uma vez Timo Glock, na manobra que decidiu o campeonato e jogou um balde de água fria em Interlagos.

Massa vence, mas Hamilton herda 5ª posição de Glock e é campeão. Veja cobertura completa


Felipe Massa: 'Deus sabe o que faz'

Brasileiro se diz feliz com o título do Mundial de Construtores, conquistado pela Ferrari, e afirma estar orgulhoso com desempenho na temporada

GLOBOESPORTE.COM São Paulo


Felipe Massa com o troféu da prova

O final foi dramático. Após ver o título cair em suas mãos com a ultrapassagem de Vettel sobre Hamilton, a situação de Felipe Massa virou completamente ao contrário com o problema no carro de Timo Glock na última curva. Na entrevista coletiva, o brasileiro fez questão de dar os parabéns à equipe da Ferrari e ao campeão Lewis Hamilton, da McLaren.

- Como Kimi falou, fizemos tudo perfeito. Infelizmente, não foi o suficiente. Acho que fizemos uma grande competição durante toda a temporada, mas correr é assim. Não tivemos um ano perfeito, tivemos alguns altos e baixos e, apesar desses altos e baixos, fizemos um trabalho excelente. Todos trabalharam muito, com o coração. Às vezes, as coisas são diferentes do que queremos. Mas todos devem ficar muito orgulhosos com o título do Mundial de Construtores. Devemos dar os parabéns a Hamilton, que conseguiu somar mais pontos que nós. São emoções misturadas, mas fizemos uma corrida perfeita, chegamos na frente e, infelizmente, por um ponto, não conseguimos. Isso faz parte das corridas. Sei perder e sei ganhar. Estou muito orgulhoso. Sai da pista com a cabeça erguida.

Felipe Massa disse que o final da corrida foi “inacreditável”, mas reconheceu que fatos assim fazem parte do esporte.

- Acho que é um dia emocionante, especial, onde muitas coisas aconteceram de uma vez, onde a gente tinha chances de vencer. As coisas mudaram a nosso favor, e na última curva, totalmente contra. É inacreditável, mas isso é esporte. Vencer a corrida, que era o máximo que poderíamos ter feito e vencer o Mundial de Construtores... Temos de comemorar. Deus sabe o que faz. Temos que agradecer a todos da Ferrari e os que estavam aqui presentes. Posso dizer que sou um cara orgulhoso por tudo o que aconteceu até aqui na minha carreira.


Sob forte chuva, fãs decepcionados deixam Interlagos

Torcedores saíram inconformados com perda do título.
Para alguns, marmelada e falhas da Ferrari são justificativas.

Do G1, em São Paulo


Foto: Paulo Piza/G1

Público deixa o Autódromo de Interlagos, na Zona Sul de São Paulo, após Felipe Massa vencer a prova e Hamilton conquistar o título de campeão mundial da Fórmula 1. (Foto: Paulo Piza/Especial para o G1)

Com pressa para escapar da chuva que cismou em cair mais forte logo no fim do Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, milhares de torcedores deixaram decepcionados o Autódromo de Interlagos na tarde deste domingo (2). A saída dos torcedores era monitorada por agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).

Com o trânsito lento nas imediações e a saída ocorrendo sem problemas, os torcedores reclamavam do resultado do Grande Prêmio. "A gente tinha esperança, e a esperanca foi reacendida nas últimas voltas. É triste, mas não tem jeito, não era para o Massa ganhar o campeonato", explicou o professor Fernando Barbosa, que mora em Ribeirão Preto, a 313 km de São Paulo e há anos ensaiava uma vinda a Interlagos.

"Resolvi vir esse ano porque o Massa tinha chances. Mas agora vou ter que voltar no ano que vem. Mesmo não tendo ganhado o campeonato, a emoção foi muito boa", afirmou. Menos conformados, outros torcedores pareciam desconfiados da perda do título na última curva. "Presenciamos um momento histórico em Interlagos. Mas o Glock terá de ser investigado", disse o advogado Adriano Lima, que mora em Florianópolis, em Santa Catarina. "Esperamos que no ano que vem o Massa consiga. Mas a Ferrari terá que cometer menos erros."

Outro advogado, Rodrigo Pompeu, que veio de Belo Horizonte, em Minas Gerais, reforça a desconfiança. "Comemoramos o título na última volta, mas aquela ultrapassagem para mim tem algo de marmelada", afirmou.

Menos preocupado com o fim da corrida, o administrador Roberto Dias tentava acalmar o filho Marcelo, de 10 anos, decepcionado em sua primeira vez em Interlagos. "Ele ficou bem decpecionado, não entendeu direito até agora o que aconteceu. Ele é muito fã do Massa. Pelo menos viu ele ganhar a corrida."

O fim do campeonato na ultima curva, entretanto, era a temática de todos que tentavam voltar para suas casas em meio à chuva e à decepção. "Achei inacreditável, na última curva! Mas valeu a pena. O Massa é o melhor, merecia ganhar o campeonato", disse Luciano André, engenheiro de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Movimento

O trânsito estava lento no entorno do Autódromo de Interlagos. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), às 17h55, o motorista enfrentava lentidão nas Avenidas Robert Kennedy e Interlagos. A primeira estava congestionada por 2 km, no sentido centro, da Avenida Senador Teotônio Vilela até a Rua Berta Waitman.

Na segunda, havia morosidade por 700 metros, no sentido bairro, entre as Praças Batista Botelho e Moscou. A maior fila de engarrafamento da cidade era registrada na Marginal do Pinheiros: 3,4 km, a partir da Ponte João Dias, no sentido Interlagos