PF fecha ´Paratodos´, prende 10 e apreende R$ 5 milhões
Banco cercado: agentes do Comando de Operações Táticas (COT), de Brasília, cercaram a sede do ´Paratodos´ por volta das 5 horas. A operação foi chefiada por uma delegada e se estendeu pelas residências dos acusados (Foto: Miguel Portela)
Dinheiro confiscado: policial arrasta malote contendo moedas que estavam guardadas em um dos cofres do banco
Prédio interditado: no fim do cerco, os federais lacraram a porta principal do banco, na Tristão Gonçalves
Justiça e Polícia Federal põem fim às atividades do grupo que controlou Jogo do Bicho no Ceará, por 30 anos
“Nosso objetivo foi alcançado. A intenção era acabar com a cúpula, com a cabeça da organização criminosa. Não adiantava pegar as bancas, logo elas seriam substituídas. Então, como que a gente fez isso? A gente prendeu os responsáveis e seqüestrou o prédio que eles chamam de banco.”
A declaração foi dada, em entrevista coletiva, ontem à tarde, pela delegada da Polícia Federal, Ana Cláudia Diniz, que chefiou a ´Operação Arca de Noé´. Duzentos policiais federais, entre eles, atiradores do Comando de Operações Táticas (COT), vindos de Brasília, ´estouraram´ o Banco Paratodos, que controlava, no Ceará, há cerca de 30 anos, a exploração do Jogo do Bicho. Dez pessoas foram presas, entre elas, oito diretores do ´Paratodos´, e quatro estão foragidas. A PF apreendeu ainda cerca de R$ 5 milhões nos cofres do banco.
Prisões
A operação foi desencadeada, a partir das 5 horas da manhã, em vários locais de Fortaleza, entre elas, as residências dos diretores do ´Paratodos´, e o próprio banco, que funcionava num prédio de cinco andares na Avenida Tristão Gonçalves, 123, em pleno Centro de Fortaleza.
Até o começo da noite passada, a PF tinha contabilizado a prisão das seguintes pessoas: Francisco Mororó (presidente da organização), 80 anos; seu filho, Francisco Lima Mororó, 64; os sócios Fábio Leite de Carvalho, Fábio Leite de Carvalho Júnior, João Carlos de Mendonça, João Evangelista Camelo Rebouças, Arnaldo Paula Viana e além da gerente do banco, Vilauba Maria de Paiva Salvador.
Na mesma ação, a PF prendeu também o policial militar reformado João Araújo Crisóstomo, acusado de comandar a segurança particular do banco; e o irmão dele, o delegado Francisco Carlos Araújo Crisóstomo, superintendente-adjunto da Polícia Civil do Ceará. Estão foragidos e sendo procurados pela PF outros quatro sócios do ´Paratodos´: Hamilton de Paula Viana, seu filho Hamilton Paula Viana Filho; José Geraldo Martins de Souza e Francisco de Assis Rodrigues de Souza.
Segundo a delegada Ana Cláudia Diniz, todos os acusados, à exceção do delegado Crisóstomo, tiveram prisão temporária de cinco dias decretada pelo juiz federal Danilo Fontenelle, titular da 11ª Vara da Justiça Federal no Ceará.
Investigação
Os diretores do ´Paratodos´ vinham sendo investigados desde 2002, num inquérito instaurado pela PF para apurar, a princípio, os crimes de sonegação fiscal e contra o sistema financeiro nacional. Mas, segundo Ana Cláudia, no decorrer das diligências sigilosas, quando foram quebrados os sigilos telefônico, fiscal e bancário dos acusados, acabaram sendo descobertos outros delitos graves como: corrupção ativa e passiva, inclusive de agentes públicos; prevaricação, tráfico de influência, posse ilegal de armas, exercício ilegal de segurança privada e ´lavagem´ de dinheiro, sem contar a contravenção penal do Jogo do Bicho.
Na semana passada, a PF decidiu que havia chegado a hora de ‘estourar’ o esquema criminoso e encaminhou à Justiça Federal o pedido de prisão para 13 envolvidos, além de 21 mandados de busca e apreensão. O pedido foi deferido pelo juiz Danilo Fontenelle e, logo, o superintendente da PF no Ceará, delegado Aldair da Rocha, pediu a mobilização de agentes de outros Estados.
Na entrevista coletiva, Aldair da Rocha afirmou que o objetivo foi alcançado, pois a desarticulação da rede criminosa só seria possível se os ‘cabeças’ fossem presos. Ele ressaltou que o trabalho da PF não tinha por objetivo reprimir a prática do Jogo do Bicho, pois segundo ele, esta era uma atribuição da Polícia Estadual. A PF entrou no caso quando descobriu a prática de delitos federais, como a sonegação de impostos e crimes contra a organização financeira do País.
A delegada informou que os agentes tiveram que arrombar vários cofres espalhados pelo interior do banco, além de chegar ao cofre-forte, onde foram encontrados os R$ 5 milhões em espécie. Além disso, toda a contabilidade do ´Paratodos´ foi confiscada e será submetida a análise pela perícia contábil.
Segundo a delegada que comandou a operação ´Arca de Noé´, somente ao fim deste exame pericial será possível constatar quanto o banco movimentava por mês e qual o volume de sonegação praticada nos últimos anos.
Fernando Ribeiro/Nathália Lobo
Editor/repórter
BUSCAS
Agentes usam marretas para abrir prédio
A sede do ´Paratodos´ foi ocupada por cerca de seis horas pela Polícia Federal. A PF, munida de mandado de busca e apreensão, teve que usar a força e entrar com a ajuda de marretas para abrir as portas e janelas, todas de vidro fumê. Durante a chegada, um policial feriu a mão esquerda devido aos estilhaços de vidro e teve que passar por pequena cirurgia para suturar o corte. Ele foi atendido numa clínica particular, por volta das 8 horas.
Do lado de fora, curiosos aguardavam o desenrolar dos fatos. A calçada, em frente ao edifício, foi interditada com fita amarela. Na entrada, pelo menos, oito policiais federais, fortemente armados, vigiavam o movimento de quem passava pela via.
Do lado de dentro, delegados da PF comandavam a operação de averiguar desde documentos, computadores e somar o dinheiro guardado no cofre do Paratodos. O advogado do grupo, Flávio Jacinto, disse que não sabia a quantia exata de dinheiro que havia ali. As informações extra-oficiais falavam de R$ 3 milhões em cédulas e moedas, posteriormente ficou confirmada a informação de que cerca de R$ 5 milhões foram confiscados. “Eles não têm nada de concreto contra a gente. É preciso ter acesso do processo para saber exatamente do que se trata”, argumentou Jacinto.
Três funcionários do grupo, todos técnicos de segurança, foram detidos e levados à sede da Federal, na Avenida Borges de Melo, para prestar depoimentos. O silêncio imperou no local. Apenas o representante do ´Paratodos´ conversava com a Imprensa vez por outra. Segundo ele, nenhum diretor estava no prédio na hora da ocupação por parte da PF.
Fechou
A operação foi apoiada pela Autarquia Municipal de Trânsito (AMC), que garantiu a livre circulação das viaturas da Polícia Federal até a sede da corporação, na Avenida Borges de Melo. O trânsito na Avenida Tristão Gonçalves ficou lento. Por volta das 11h40, a AMC fechou um quarteirão da via, exatamente para as viaturas da federal melhor se posicionarem para receber o material apreendido. No total, sete malotes com cédulas, e mais dois de moedas foram levados pelos agentes. Além disso, foram retirados do prédio, um rifle, documentos e computadores.
Lêda Gonçalves
Repórter
REAÇÃO
Cambistas estavam revoltados com a ação
Deu zebra no Jogo do Bicho do Ceará. Ninguém esperava, no entanto, a famosa “fezinha” no palpite ou sonho, realizada em “bancas” tão comuns e fáceis de encontrar em cada esquina da cidade, teve que ser adiada. Ontem, os 26 mil cambistas existentes no Estado, de acordo com dados do grupo ´Paratodos´, foram obrigados a parar suas atividades devido a ´Operação Arca de Noé´.
Sem saber o que fazer, muitos foram para a sede do grupo tentar colher informações mais precisas. “Tive que recolher minha banca, no Conjunto Ceará, porque mandaram. Foi de repente”, conta José Amaro de Farias Lima.
A maioria demonstrava desespero com a ação da PF. Revoltados, alguns xingaram os policiais federais. “Quem vai botar comida no prato de meus filhos agora?”, indagava a cambista Zenita Menezes da Silva. Ela relata que é mãe e pai das crianças e o Jogo do Bicho garantia sua sobrevivência.
Fonte:diariodonordeste.com.br
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