quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Golpistas usam computador para fraudar quilometragem de carros em SP

Reportagem do 'Jornal da Globo' mostra esquema de adulteração.
Vítimas do golpe sofrem com defeitos apresentados pelos veículos.

Do G1, com informações do Jornal da Globo

Você já desconfiou da quilometragem de um carro usado? A polícia paulista descobriu que oficinas especializadas em São Paulo e no ABC paulista fazem o hodômetro de automóveis recuar. Depois que a fraude é executada, os carros são revendidos como se fossem menos rodados do que são e por isso mais caros.

Veja o site do Jornal da Globo

Um equipamento da polícia revela a real quilometragem de um carro exposto à venda no ABC paulista e não é a que aparece no marcador. O carro tem 25 mil quilômetros a mais.

A adulteração é feita em oficinas, como uma em Santo André, na Grande São Paulo. Um carro da polícia - usado na investigação - é levado a uma dessas lojas para que sejam retirados 30 mil quilômetros do hodômetro, o instrumento que mostra a distância percorrida.

O técnico tira a parte do painel, leva a peça para os fundos da oficina e volta com o serviço pronto. Enquanto põe a peça no lugar, ele diz que é difícil descobrir a fraude. “Só se o cara desmontar o painel dá para descobrir”, diz.

O serviço custou R$ 80. O hodômetro, que antes estava em 123 mil quilômetros, agora marca 93 mil.

Para fazer a alteração, os golpistas conectam o painel do carro a um computador que tem um programa capaz de mexer na distância percorrida. Assim, o hodômetro passa a mostrar a quilometragem que o dono quer.

Mecânicos estão acostumados a atender motoristas pegos de surpresa pela falsa quilometragem e pela falta de manutenção. Vítima do golpe, Bernardo Julius Alves Wainstein teve o motor do carro quebrado logo após a compra. “De repente, ouvi um barulho estranho no motor, que foi ficando mais intenso e forte”, conta Wainstein.

Era um sinal de que os 14 mil quilômetros que o hodômetro mostrava eram pura ilusão. “No meio da estrada, o carro fundiu o motor”, diz. A vítima do golpe descobriu depois que o carro já registrava quase 50 mil quilômetros quando passou por uma oficina em Belo Horizonte.

Em São Paulo, a reportagem do "Jornal da Globo" flagrou outra oficina. O carro chegou ao local com 94 mil quilômetros, e em 15 minutos, ficou com 20 mil a menos.

Chamado a se explicar, o técnico declarou que baixa a quilometragem de quatro carros por dia e nem por isso ficou preso.

Crime

O crime contra o consumidor, segundo a polícia, é cometido pela pessoa que encomenda a adulteração e passa o carro adiante.

“Ela responde pelo crime contra as relações de consumo, estando sujeita à pena de dois anos a cinco anos de detenção”, afirma o delegado Carlos Eduardo Duarte de Carvalho.

Wainstein, vítima da fraude em Minas, esperou quatro anos, mas viu o golpista ser condenado. “Essa questão de terminar em pizza não pode permanecer”, diz.

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