Reportagem do 'Jornal da Globo' mostra esquema de adulteração.
Vítimas do golpe sofrem com defeitos apresentados pelos veículos.
Você já desconfiou da quilometragem de um carro usado? A polícia paulista descobriu que oficinas especializadas em São Paulo e no ABC paulista fazem o hodômetro de automóveis recuar. Depois que a fraude é executada, os carros são revendidos como se fossem menos rodados do que são e por isso mais caros.
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Um equipamento da polícia revela a real quilometragem de um carro exposto à venda no ABC paulista e não é a que aparece no marcador. O carro tem 25 mil quilômetros a mais.
A adulteração é feita em oficinas, como uma em Santo André, na Grande São Paulo. Um carro da polícia - usado na investigação - é levado a uma dessas lojas para que sejam retirados 30 mil quilômetros do hodômetro, o instrumento que mostra a distância percorrida.
O técnico tira a parte do painel, leva a peça para os fundos da oficina e volta com o serviço pronto. Enquanto põe a peça no lugar, ele diz que é difícil descobrir a fraude. “Só se o cara desmontar o painel dá para descobrir”, diz.
O serviço custou R$ 80. O hodômetro, que antes estava em 123 mil quilômetros, agora marca 93 mil.
Para fazer a alteração, os golpistas conectam o painel do carro a um computador que tem um programa capaz de mexer na distância percorrida. Assim, o hodômetro passa a mostrar a quilometragem que o dono quer.
Mecânicos estão acostumados a atender motoristas pegos de surpresa pela falsa quilometragem e pela falta de manutenção. Vítima do golpe, Bernardo Julius Alves Wainstein teve o motor do carro quebrado logo após a compra. “De repente, ouvi um barulho estranho no motor, que foi ficando mais intenso e forte”, conta Wainstein.
Era um sinal de que os 14 mil quilômetros que o hodômetro mostrava eram pura ilusão. “No meio da estrada, o carro fundiu o motor”, diz. A vítima do golpe descobriu depois que o carro já registrava quase 50 mil quilômetros quando passou por uma oficina em Belo Horizonte.
Em São Paulo, a reportagem do "Jornal da Globo" flagrou outra oficina. O carro chegou ao local com 94 mil quilômetros, e em 15 minutos, ficou com 20 mil a menos.
Chamado a se explicar, o técnico declarou que baixa a quilometragem de quatro carros por dia e nem por isso ficou preso.
Crime
O crime contra o consumidor, segundo a polícia, é cometido pela pessoa que encomenda a adulteração e passa o carro adiante.
“Ela responde pelo crime contra as relações de consumo, estando sujeita à pena de dois anos a cinco anos de detenção”, afirma o delegado Carlos Eduardo Duarte de Carvalho.
Wainstein, vítima da fraude em Minas, esperou quatro anos, mas viu o golpista ser condenado. “Essa questão de terminar em pizza não pode permanecer”, diz.
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