Alemães, britânicos e norte-americanos celebram nesta terça-feira (24) os 60 anos do que foi apelidado de "primeira batalha da Guerra Fria". Em 24 de junho de 1948, começava a ponte aérea para abastecer a cidade de Berlim, após o bloqueio do acesso terrestre à cidade pelas forças soviéticas que ocupavam a porção oriental da Alemanha.
Quandos os aliados venceram a 2ª Guerra Mundial, em 1945, a Alemanha, livre dos nazistas, foi repartida em quatro zonas administrativas - controladas por União Soviética, Estados Unidos, Reino Unido e França.
A capital alemã, Berlim,apesar de estar geograficamente localizada no que então era a zona soviética, também foi subdividida em quatro áreas, o que criou um núcleo capitalista (o território de americanos, franceses e ingleses) no meio do território sob controle soviético.
Como Moscou não queria ter uma vitrine do capitalismo em seus domínios, resolveu fechar o acesso terrestre a Berlim Ocidental, o que, segundo os planos de Josef Stalin, obrigaria a cidade a aceitar ajuda soviética mais cedo ou mais tarde. Americanos e britânicos decidiram então criar uma ponte aérea para suprir as necessidades básicas da cidade.
“Tudo que se necessitava naquela cidade de 2,5 milhões de habitantes tinha que ser levado de avião”, relembra W.C. “Dub” Suthers, veterano de 79 anos que participou da operação como engenheiro de vôo, com 196 missões realizadas ao todo, em entrevista ao G1. Ele tinha 20 anos quando foi convocado a ajudar no transporte de suprimentos. “Nosso grupo transportava carvão e farinha. Os britânicos tinham a missão de suprir a cidade com gás e combustível”, conta. Os engenheiros de vôo eram os terceiros homens (depois do piloto e do co-piloto) a operarem os aviões C-47 e C-54, destacados pelos EUA para a ponte. Sua função era controlar as condições técnicas durante o vôo, monitorando a temperatura e a pressão dos motores, por exemplo.
“Eu estava estacionado na costa oeste dos EUA. Um dia, estávamos saindo para o Alasca e os seis aviões em que estávamos receberam ordem para retornar. Disseram que os aviões seriam embarcados para Berlim no dia seguinte”, conta Suthers.
Segundo o veterano, somente por parte dos EUA houve 30 mil homens envolvidos na operação, incluindo o pessoal da Marinha e do Exército. “Tínhamos 350 aviões ao todo e tentávamos manter 225 voando”, conta o ex-engenheiro de vôo. “Era um trabalho duro. Voávamos 12 horas por dia, 7 dias por semana, enquanto o clima permitisse. Se o tempo estivesse ruim, ficávamos encarregados da manutenção das aeronaves.” A grande quantidade de vôos ininterruptos podia levar a erros. De fato, vários aviões caíram nos 11 meses de bloqueio, e dezenas de americanos e britânicos perderam a vida tentando manter Berlim abastecida. Os soviéticos ainda voavam próximo aos aviões cargueiros, ou davam tiros ao ar, para atrapalhar as viagens.“Eu só fui para a Alemanha na época do bloqueio. Mas as histórias que ouvia eram que, depois da guerra, os alemães queriam que nós (os aliados) fôssemos embora. Mas, quando começou a ponte aérea, as pessoas perceberam o que estávamos fazendo. Claro, os alemães nos odiavam, afinal tínhamos bombardeado eles muito. Mas não demorou muito para que percebessem que estávamos tentando salvá-los”, conta Suthers.
Àquela altura, os inimigos principais dos EUA já não eram os alemães, mas sim os soviéticos. “Nós até tínhamos mecânicos alemães trabalhando nos aviões. Traduzimos os manuais dos nossos aviões para o alemão, e depois contratamos ex-pilotos de caça alemães para serem nossos mecânicos. E eram bons mecânicos”, conta Suthers. “Nós nos sentíamos realmente como se estivéssemos na primeira batalha da Guerra Fria. A batalha era que nós tínhamos que manter Berlim e a Alemanha livres de virarem comunistas. Se os americanos tivessem sido forçados para fora de Berlim, a cidade rapidamente teria virado comunista. E talvez toda a Europa teria virado comunista”, analisa.
O clima tenso entre os soviéticos e os EUA, no entanto, não preocupava muito o então jovem militar. “Não tinha medo de ser atacado pelos russos porque o Truman (Harry Truman, então o presidente dos EUA) trouxe três B-29 ( avião conhecido também como “Superfortaleza”, modelo utilizado para lançar bombas atômicas sobre o Japão) para a Europa – dois para a Inglaterra e um para a Alemanha – e os russos sabiam que tínhamos a bomba atômica”.
Os soviéticos chegaram a oferecer comida grátis aos berlinenses ocidentais, mas a ponte aérea funcionava de forma tão eficiente que Moscou acabou sendo obrigada a levantar o bloqueio, percebendo que não conseguiria ganhar a população, que chegou a fazer uma grande manifestação para pedir a manutenção do apoio dos países capitalistas.
Vôo comemorativo
Secretário de uma associação de veteranos participantes da ponte aérea de Berlim, Suthers foi convidado para refazer, nesta terça-feira (24) junto com outros companheiros, um vôo comemorativo entre Frankfurt e Berlim, com um avião da época.
Próximo de completar 80 anos, Suthers segue na ativa como sócio de uma empresa de software no Texas e acompanha as novas empreitadas militares de seu país. Ele apóia a presença dos EUA no Iraque, onde seu neto lutou. “Meu neto é fuzileiro naval e acaba de voltar do Iraque, há dois meses. Ele vai se alistar novamente para entrar nas forças especiais e então voltará para lá. E tenho que dizer: nós temos que fazer isso. Acho que precisamos pará-los em algum lugar. E é melhor que os paremos lá do que aqui. Deveríamos ter planejado melhor, mas eu estou 100% com os militares."
Quandos os aliados venceram a 2ª Guerra Mundial, em 1945, a Alemanha, livre dos nazistas, foi repartida em quatro zonas administrativas - controladas por União Soviética, Estados Unidos, Reino Unido e França.
A capital alemã, Berlim,apesar de estar geograficamente localizada no que então era a zona soviética, também foi subdividida em quatro áreas, o que criou um núcleo capitalista (o território de americanos, franceses e ingleses) no meio do território sob controle soviético.
Como Moscou não queria ter uma vitrine do capitalismo em seus domínios, resolveu fechar o acesso terrestre a Berlim Ocidental, o que, segundo os planos de Josef Stalin, obrigaria a cidade a aceitar ajuda soviética mais cedo ou mais tarde. Americanos e britânicos decidiram então criar uma ponte aérea para suprir as necessidades básicas da cidade.
“Tudo que se necessitava naquela cidade de 2,5 milhões de habitantes tinha que ser levado de avião”, relembra W.C. “Dub” Suthers, veterano de 79 anos que participou da operação como engenheiro de vôo, com 196 missões realizadas ao todo, em entrevista ao G1. Ele tinha 20 anos quando foi convocado a ajudar no transporte de suprimentos. “Nosso grupo transportava carvão e farinha. Os britânicos tinham a missão de suprir a cidade com gás e combustível”, conta. Os engenheiros de vôo eram os terceiros homens (depois do piloto e do co-piloto) a operarem os aviões C-47 e C-54, destacados pelos EUA para a ponte. Sua função era controlar as condições técnicas durante o vôo, monitorando a temperatura e a pressão dos motores, por exemplo.
“Eu estava estacionado na costa oeste dos EUA. Um dia, estávamos saindo para o Alasca e os seis aviões em que estávamos receberam ordem para retornar. Disseram que os aviões seriam embarcados para Berlim no dia seguinte”, conta Suthers.
Segundo o veterano, somente por parte dos EUA houve 30 mil homens envolvidos na operação, incluindo o pessoal da Marinha e do Exército. “Tínhamos 350 aviões ao todo e tentávamos manter 225 voando”, conta o ex-engenheiro de vôo. “Era um trabalho duro. Voávamos 12 horas por dia, 7 dias por semana, enquanto o clima permitisse. Se o tempo estivesse ruim, ficávamos encarregados da manutenção das aeronaves.” A grande quantidade de vôos ininterruptos podia levar a erros. De fato, vários aviões caíram nos 11 meses de bloqueio, e dezenas de americanos e britânicos perderam a vida tentando manter Berlim abastecida. Os soviéticos ainda voavam próximo aos aviões cargueiros, ou davam tiros ao ar, para atrapalhar as viagens.“Eu só fui para a Alemanha na época do bloqueio. Mas as histórias que ouvia eram que, depois da guerra, os alemães queriam que nós (os aliados) fôssemos embora. Mas, quando começou a ponte aérea, as pessoas perceberam o que estávamos fazendo. Claro, os alemães nos odiavam, afinal tínhamos bombardeado eles muito. Mas não demorou muito para que percebessem que estávamos tentando salvá-los”, conta Suthers.
Àquela altura, os inimigos principais dos EUA já não eram os alemães, mas sim os soviéticos. “Nós até tínhamos mecânicos alemães trabalhando nos aviões. Traduzimos os manuais dos nossos aviões para o alemão, e depois contratamos ex-pilotos de caça alemães para serem nossos mecânicos. E eram bons mecânicos”, conta Suthers. “Nós nos sentíamos realmente como se estivéssemos na primeira batalha da Guerra Fria. A batalha era que nós tínhamos que manter Berlim e a Alemanha livres de virarem comunistas. Se os americanos tivessem sido forçados para fora de Berlim, a cidade rapidamente teria virado comunista. E talvez toda a Europa teria virado comunista”, analisa.
O clima tenso entre os soviéticos e os EUA, no entanto, não preocupava muito o então jovem militar. “Não tinha medo de ser atacado pelos russos porque o Truman (Harry Truman, então o presidente dos EUA) trouxe três B-29 ( avião conhecido também como “Superfortaleza”, modelo utilizado para lançar bombas atômicas sobre o Japão) para a Europa – dois para a Inglaterra e um para a Alemanha – e os russos sabiam que tínhamos a bomba atômica”.
Os soviéticos chegaram a oferecer comida grátis aos berlinenses ocidentais, mas a ponte aérea funcionava de forma tão eficiente que Moscou acabou sendo obrigada a levantar o bloqueio, percebendo que não conseguiria ganhar a população, que chegou a fazer uma grande manifestação para pedir a manutenção do apoio dos países capitalistas.
Vôo comemorativo
Secretário de uma associação de veteranos participantes da ponte aérea de Berlim, Suthers foi convidado para refazer, nesta terça-feira (24) junto com outros companheiros, um vôo comemorativo entre Frankfurt e Berlim, com um avião da época.
Próximo de completar 80 anos, Suthers segue na ativa como sócio de uma empresa de software no Texas e acompanha as novas empreitadas militares de seu país. Ele apóia a presença dos EUA no Iraque, onde seu neto lutou. “Meu neto é fuzileiro naval e acaba de voltar do Iraque, há dois meses. Ele vai se alistar novamente para entrar nas forças especiais e então voltará para lá. E tenho que dizer: nós temos que fazer isso. Acho que precisamos pará-los em algum lugar. E é melhor que os paremos lá do que aqui. Deveríamos ter planejado melhor, mas eu estou 100% com os militares."
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