quinta-feira, 12 de março de 2009

Após PIB, juros caem para 11,25% ao ano, o menor nível da história

Copom reduz juros em 1,5 ponto no maior corte desde novembro de 2003.
Mesmo assim, Brasil segue na liderança no ranking mundial de juros reais.

Alexandro Martello Do G1, em Brasília


Após a produção industrial registrar um tombo de 17,2% em janeiro, contra o mesmo mês de 2008, e o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro apresentar recuo de 3,6% no último trimestre do ano passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que se reuniu nesta quarta-feira (11), manteve a estratégia de cortes mais pronunciados nos juros básicos da economia brasileira e efetuou uma redução de 1,5 ponto percentual na taxa Selic. É o maior corte de juros desde de novembro de 2003.

Com isso, os juros definidos pela autoridade monetária, que servem de referência para o mercado financeiro, recuaram para 11,25% ao ano e retornaram ao patamar registrado entre setembro de 2007 e abril do ano passado - o menor nível da história. A série histórica do BC tem início em 1996.

Os juros começaram a cair somente após o agravamento da crise financeira internacional, que atingiu a economia brasileira de outubro de 2008 em diante, resultando em um menor nível de atividade e também de procura por produtos e serviços.

Foto: Editoria de Arte/G1

Corte feito pelo Copom nesta quarta (11) levou taxa Selic a 11,25% ao ano. (Foto: Editoria de Arte/G1)

Os cortes na taxa de juros foram retomados na última reunião do Copom, ocorrida em janeiro deste ano, quando a taxa Selic caiu um ponto percentual, para 12,75% ao ano - no maior corte em cinco anos.

Ao fim do encontro, o BC divulgou a seguinte frase: "Avaliando o cenário macroeconômico, o Copom decidiu, neste momento, reduzir a taxa Selic para 11,25% ao ano, sem viés, por unanimidade. O Comitê acompanhará a evolução da trajetória prospectiva para a inflação até a sua próxima reunião, levando em conta a magnitude e a rapidez do ajuste da taxa básica de juros já implementado e seus efeitos cumulativos, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária". O Copom se reúne novamente em 28 e 29 de abril.

Expectativa do mercado

A decisão do Copom em reduzir os juros para 11,25% ao ano coincidiu com a aposta da maior parte dos analistas do mercado financeiro. Na semana passada, informação que foi divulgada nesta segunda-feira (9), parte dominante dos economistas ainda previa um corte menor: de um ponto percentual, para 11,75% ao ano. Entretanto, após o resultado da produção industrial de janeiro, e do PIB do último trimestre, a aposta para o Copom deste mês subiu para um corte de 1,5 ponto percentual - conforme foi efetuado hoje. A expectativa do mercado é que os juros caiam a até 10,25% ao ano até o fim de 2009.

Liderança no ranking de juros reais

Mesmo com a decisão desta quarta-feira do Copom, o Brasil ainda segue na liderança no ranking mundial de juros reais, que são calculados após o abatimento da inflação. Com a redução de 1,5 ponto percentual, os juros reais brasileiros caem para 6,5% ao ano, informou a Consultoria UpTrend.

O segundo colocado na lista é a Hungria, com juros reais de 6,2% ao ano, seguida pela Argentina, com taxa de 4,3% ao ano. A média de juros reais em 40 países pesquisados pela consultoria é de 4,14% ao ano.

Processo de definição dos juros

No Brasil, vigora o sistema de metas de inflação, pelo qual o Copom tem de calibrar a taxa de juros para atingir uma meta pré-determinada com base no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Ao subir os juros, atua para conter a inflação e, ao baixá-los, avalia que a inflação está condizente com as metas.

Para este ano, e para 2010, a meta central de inflação é de 4,50%. Entretanto, há um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Com isso, o IPCA pode ficar entre 2,50% e 6,50% sem que a meta seja formalmente descumprida.

Com um crescimento menor da economia, há menos pressões inflacionárias. Outro fator que atua para conter a subida da inflação é o recuo dos preços das "commodities" (alimentos, aço e petróleo, entre outros). Entretanto, a subida do dólar, que está em patamar superior ao registrado antes da crise, pode atuar para pressionar os preços.

Para 2009, a projeção do mercado financeiro para o IPCA, que estava em 5,20% em dezembro e já havia recuado para 4,80% janeiro, caiu para 4,57% na última semana. Deste modo, continua convergindo para a meta central.

Nesta quarta-feira, o IBGE informou que o IPCA avançou para 0,55% em fevereiro deste ano, valor que veio próximo à expectativa do mercado financeiro. Mesmo sendo a maior alta desde junho de 2008, economistas do IBGE avaliaram que o movimento foi "pontual", uma vez que reflete, em grande parte, o reajuste do item Educação. Retirando esse grupo, todos os demais apontam para baixo, informou o IBGE.

Responsabilidade

Na última semana, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, participou da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) e afirmou, para um público de empresários e membros do governo, que a redução dos juros básicos tem de ser feita com "responsabilidade".

"Não se conseguiu nada no Brasil nas últimas décadas com irresponsabilidades, com atitudes impensadas, demagógicas ou de curto prazo. Essa responsabilidade envolve uma queda gradual, que está acontecendo nos últimos anos. E o BC já indicou que está olhando atentamente toda situação economia, nacional e internacional, e está tomando as atitudes adequadas", disse ele no momento.

Segundo avaliação de Meirelles, a história mostra que essa estratégia tem dado certo. "Houve ganho do poder de renda do trabalhador, aumento da expansão da classe média, mostrou um ganho das empresas. São resultados sem paralelo na história recente do Brasil. Vamos manter o mesmo nível de responsabilidade", disse na última semana.

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