Gravação revela diálogo na cabine de Airbus da TAM
Momentos antes da colisão, co-piloto da aeronave diz ‘vira, vira, vira’.
Conversa mostra que piloto e co-piloto tentaram parar avião.
Às vésperas de o acidente do vôo 3054 da TAM completar um ano, o Fantástico teve acesso à gravação da cabine de comando da aeronave. No áudio, ouve-se a voz de Henrique Stephanini, co-piloto do Airbus A320, muitos ruídos e conversas vindas de um outro vôo. Na gravação, o co-piloto repete “vira, vira, vira”.
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Apesar da pouca qualidade do som, fica claro que Henrique Stephanini e o comandante Kleyber Lima tentaram parar a aeronave, mas não conseguiram. A aeronave pousou no Aeroporto de Congonhas e atravessou a Avenida Washington Luís, chocando-se contra o prédio da TAM Express.
“Desacelera, desacelera”, diz o co-piloto. “Não dá, não dá”, responde o piloto. A CPI do Apagão Aéreo divulgou a transcrição dos segundos finais dessa conversa em agosto do ano passado. Apenas a transcrição, não o áudio.
Até hoje, apenas autoridades e um grupo de pilotos e de parentes de vítimas tinham escutado toda a gravação. É o caso do pai da vítima Thais Scott. Aos 14 anos, a adolescente tinha saído de Porto Alegre para passar as férias com os avós em São Paulo.
O pai dela, Dario Scott, que é presidente da associação dos parentes das vítimas da Tam, diz que, pelas conversas na cabine, ficou com a impressão de que o pouso parecia normal, ou quase normal. Segundo ele, só quando a aeronave já se preparava para descer, a torre de Congonhas avisou que a pista tinha problemas. “Tam na final de duas milhas, poderia confirmar as condições?”, pergunta o piloto. “Pista molhada e escorregadia”, responde alguém da torre.
“O que nós queremos é que realmente consigamos a punição e a responsabilização dos irresponsáveis pelo que aconteceu”, afirma Dario Scott.
O perito Antônio Nogueira, responsável pelo laudo do Instituto de Criminalística que apura as causas do acidente, mostra que a caixa-preta do avião registrou o que é considerado pela polícia o principal problema: durante o pouso, um dos motores permaneceu em aceleração. Era o que estava com reverso travado (pinado). O perito não descarta uma combinação de erro humano e falha técnica.
Como o avião estava acelerando, os chamados spoilers, que ficam na parte de cima das asas e funcionam como freios aerodinâmicos, não atuaram. O áudio dos segundos finais revela a angústia dessa situação até o momento da batida no Prédio da TAM Express.
Para o promotor Mário Luiz Sarrubbo, que acompanha as investigações, o piloto e o co-piloto não teriam culpa do acidente. “Eles na verdade operaram da maneira que entendiam ser mais segura”, disse.
Segundo a investigação, há ainda outros fatores que contribuíram para o maior acidente aeronáutico do Brasil. “Uma hora e quarenta minutos antes do acidente, essa pista chegou a ser interditada. Dois funcionários da Infraero, sem qualquer instrumento, depois de 12 minutos, liberaram a pista”, diz o delegado Antonio Carlos Barbosa.
O delegado diz ainda que, sete meses antes da tragédia, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) divulgou em seu site esta norma: "em pista molhada, a tripulação deve usar o máximo reverso". No avião da TAM, com um dos reversos travado, isso seria impossível.
“Nós temos aqui provas evidentes de que a Anac sabia da norma, que as operadoras sabiam da norma e, conseqüentemente, se ela fosse respeitada não teria ocorrido o acidente”, acrescenta o delegado.
Em nota oficial, a Anac diz que não há como a gestão atual comentar a atuação da diretoria anterior, que estava na agência na época do acidente. Informa ainda que a proibição de pousos e decolagens em Congonhas de aeronaves com o reverso pinado foi publicada em março deste ano.
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