sábado, 6 de dezembro de 2008

Hajj, peregrinação a Meca, é ritual de desapego, arrependimento e reflexão

Muçulmanos do mundo inteiro se reúnem uma vez por ano em Meca.
Peregrinação teve início com Maomé, em 628.

Giovana Sanchez Do G1, em São Paulo


Imagem mostra a Caaba, a pedra sagrada, no centro da Grande Mesquita, em 1910 (Foto: Reprodução/Wikimedia Commons)

Todos os anos, a cidade saudita de Meca recebe milhões de muçulmanos para um ritual histórico e religioso de desapego, arrependimento e reflexão. O Hajj, que significa "peregrinação" em árabe e começa neste sábado (6), é um dos cinco pilares da religião islâmica - junto com o testemunho, a reza, a esmola e o ramadã.

A caminhada é antiga e foi realizada por todos os profetas a partir de Maomé - que, em 628, fez a primeira peregrinação, levando 1.400 fiéis à Meca.

A história do Hajj remota aos fundamentos do islamismo, à época de Abraão, considerado pai de todos os profetas. Segundo a religião, Deus ordenou que Abraão - junto com seu filho Ismael - reerguesse os pilares da Caaba (meteorito, que fica em Meca, considerado sagrado pelos muçulmanos) e fizesse o chamamento para que o povo viesse peregrinar. O ritual implica seguir os caminhos e reproduzir atos feitos por ele.

Contam os muçulmanos que Abraão viu no sonho que estava sacrificando seu filho e levou Ismael para a morte. No caminho, foi tentado três vezes por Satanás e apedrejou-o com sete pedras. No momento do sacrifício, a faca não cortou. Deus, então, enviou o anjo Gabriel para dizer a Abraão que ele havia concluído sua prova e sido sincero. Cordeiros foram sacrificados no lugar de Ismael.

Policiais inspecionam local de pisoteamento durante o Hajj, em janeiro de 2006 (Foto: AFP)

Na peregrinação, portanto, o muçulmano caminha pelos mesmos locais da história, atira pedras em paredes e sacrifica um animal, distribuindo a carne aos pobres. Tudo para simular os passos do profeta.

Desapego

O Hajj é uma obrigação para todo o muçulmano que tem condições financeiras e físicas de empreender a viagem. Mulheres estão inclusas - mas só devem ir se acompanhadas de um grupo de outras mulheres ou de um homem. O peregrino deve vestir apenas uma túnica branca, simbolizando o desapego a valores e bens.

"Naquele momento, todos são iguais", explica o xeque Jihad Hassan Hammadeh, vice-presidente da Assembléia Mundial da Juventude Islâmica (WAMY) no Brasil, em entrevista ao G1, por telefone.

Hammadeh já realizou a peregrinação diversas vezes, a última delas em 2005. Segundo ele, tudo muda na vida de quem faz a viagem. "Foram as melhores viagens da minha vida. Sofri, mas é uma satisfação incrível, individual, de retorno ao espiritual."

O custo varia conforme o muçulmano quer viajar. Há hotéis e há barracas. "É possível fazer a peregrinação com mil dólares e com sete mil", diz Hammadeh. Ele conta que sua primeira ida lhe custou apenas US$ 100. "Dormi em papelões, no chão."

Segurança

A reunião de multidões em Meca já causou muitos acidentes. Em 2006, 363 pessoas morreram num pisoteamento. Em 2004, o número foi de 244. No pior deles, ocorrido em 1990, o número de mortes foi de 1.400, segundo o jornal "New York Times".

Nos últimos anos, o governo saudita fez obras para tentar evitar os acidentes, construindo uma nova rede de estradas e de pontes para facilitar a viagem a um custo de cerca de US$ 1 bilhão.

Além disso, vários hospitais móveis foram instalados em diferentes partes da região para atender aos peregrinos que possam sofrer algum percalço. Segundo Hammadeh, os tumultos ocorrem pela quantidade de gente junta. "Não há assaltos nem criminalidade. O que existe é às vezes um desespero por algum barulho ou movimento brusco de alguém."

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