14/07/2008 - 08h00
Em série de três artigos, astrônomo Ronaldo Rogério de Freitas Mourão relata o episódio.Saiba o que aconteceu, o que se apurou e quais são as hipóteses que explicam o ocorrido.
Há cem anos, na manhã de 30 de junho de 1908, às 7h14, hora local, uma enorme explosão ocorreu, após uma bola de fogo ter sido vista atravessando o céu. Não foram encontrados vestígios de um meteorito, mas uma onda de choque devastou toda uma região desabitada de florestas de taiga pantanosa que permanece congelada durante cerca de oito meses do ano, nas proximidades do rio Tunguska, cerca de 800 quilômetros a noroeste do lago Baikal, na Sibéria Central. Num raio de 30 quilômetros, todas as árvores foram destruídas. Ouviu-se o ruído a mais de mil quilômetros.
Uma estranha luminescência foi observada durante a noite em inúmeras regiões. Ao longo da Europa, registraram-se ondas sísmicas semelhantes às de um terremoto e perturbações no campo magnético terrestre. Os meteorologistas, com seus microbarógrafos, conseguiram determinar que as ondas de choque, oriundas da explosão, deram no mínimo duas voltas ao redor da Terra.
Na Ásia e na Europa, as noites se tornaram luminosas e os pores-do-sol assumiram um forte colorido vermelho.
Na realidade, o denominado Evento de Tunguska foi uma explosão que ocorreu na atmosfera acima de um sítio com as coordenadas geográficas 60°55’ N, 101°57' L, próximo ao rio Podkamennaya Tunguska, na província de Evenkia, na Sibéria. Mais tarde, a sua potência foi estimada entre 10 e 15 megatons. O episódio provocou a destruição de cerca de 60 milhões de árvores numa área estimada em 2.150 quilômetros quadrados.
Se o objeto responsável pela explosão tivesse atingido a Terra algumas horas mais tarde, ou melhor, explodido sobre uma área mais densamente povoada da Europa –- provavelmente sobre a cidade de São Petersburgo -–, em lugar de uma região de baixa densidade populacional, como Tunguska, possivelmente teria provocado uma enorme catástrofe, com uma maciça perda de vidas humanas.
Por volta das de 7 horas e 15 minutos da manhã, os tungues nativos e os colonos russos das colinas noroeste do lago Baikal observaram uma enorme bola de fogo que se deslocava no céu, quase tão brilhante como o Sol. Alguns minutos mais tarde, um intenso clarão iluminou metade do céu, acompanhado por uma onda choque que, além de golpear as pessoas, quebrou as vidraças das janelas das casas situadas num circulo de cerca de 650 km de raio. A explosão foi registrada na maior parte das estações sísmicas de toda a Eurásia, assim como produziu fortes oscilações na pressão atmosférica suficientemente intensas para serem detectado pelo barógrafos que tinham sido inventados recentemente na Grã-Bretanha.
Nas semanas que se seguiram à explosão, o céu noturno na Europa e na Rússia Ocidental apresentou uma luminosidade tão brilhante que sua luz era suficiente para que as pessoas pudessem ler um jornal. Nos Estados Unidos, o Observatório Astrofísico Smithsonian e o Observatório de Monte Wilson detectaram uma redução da transparência atmosférica que durou vários meses.
Surpreendentemente, na época, houve pouca curiosidade científica sobre o impacto; talvez em virtude da dificuldade em alcançar uma região tão isolada como as tungas siberianas, onde o fenômeno tinha sido observado.
A primeira explicação foi a de que um enorme meteoro, com um peso superior a um milhão de toneladas, havia caído em alguma região das florestas siberianas. Mas essa não seria a última palavra sobre o assunto...
NÃO PERCA: A história das expedições que investigaram o episódio -- nesta terça, no G1.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo, autor de mais de 85 livros, dentre eles "Nas fronteiras da Intolerância: Einstein, Hitler, a Bomba e o FBI".
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