A economia estável, uma boa perspectiva de crescimento e a posição estratégica na América Latina são alguns dos fatores que fizeram com que o Brasil entrasse na mira das empresas do exterior em 2008. Neste ano, o país deve superar o recorde de investimento estrangeiro produtivo alcançado em 2007 e ultrapassar a marca dos US$ 34 bilhões, segundo estimativas do Banco Central – no ano passado, foram registrados US$ 33,7 bilhões.
Além disso, o Brasil deve ser o sexto destino preferido pelas multinacionais nos próximos cinco anos, superando inclusive países de economia tradicionais como Alemanha e Japão, segundo a consultoria KPMG. E também passou da 20ª para a 12ª posição no ranking de atração de investimentos estrangeiros da PricewaterhouseCoopers.
Para Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais (Sobeet), o Brasil “surfa” em uma onda de “motivação global”.
“O investimento está crescendo no mundo inteiro, não só no Brasil. Mas há fatores específicos que beneficiam o Brasil, como o grau de investimento”, diz Lima, que destaca a indústria automobilística, a química e de tecnologia como pontos em desenvolvimento e expansão.
Segundo ele, uma pesquisa da Sobeet que analisou nove países que obtiveram a nota mostrou que o investimento cresceu, em média, 45% nos dois anos anteriores ao recebimento da classificação e por volta de 175% no biênio posterior.
Esse raciocínio explica também, de acordo com Lima, o recorde de investimentos de fora recebidos pelo país em 2007. “O duplo grau de investimento [agências Standard & Poor's e Fitch] que o Brasil recebeu neste ano, reforçará ainda mais a tendência de expansão.”
Um dos diferenciais do Brasil em relação a outros países que atraem investimentos, segundo Lima, é que 70% dos recursos que entram no país devem ser voltados a novas plantas industriais.
“Isso é exatamente o contrário do que acontece em outros países. No mundo, 70% vai para fusões e aquisições. No Brasil, o que acontece é a expansão da capacidade produtiva.”
Essa característica pode ser identificada em alguns dos anúncios feitos neste ano por empresas estrangeiras no Brasil. Um deles é uma nova fábrica de motores e de componentes automotivos da norte-americana GM em Joinville (SC), no valor de US$ 200 milhões. Na última semana, a Sansung anunciou uma nova fábrica de impressoras e multifuncionais a laser, em Campinas (SP), a terceira aberta nesta área de negócios, fora da Coréia.
“O Brasil é visto hoje como um ponto estratégico e tem crescimento quase tão grande quanto o da Ásia”, diz Fernando Francini, presidente no Brasil da Emerson, empresa de soluções em tecnologia, que aumentará em 30% os investimentos no país em 2008.
"Temos muito mercado no Brasil", afirma Roberto Cortes, presidente da alemã Volkswagen Caminhões e Ônibus, que investirá R$ 1 bilhão no país até 2012.
Para o economia e professor da PUC-SP Antonio Correa de Lacerda, autor de “Desnacionalização” e “Globalização e Investimentos Estrangeiros no Brasil”, o foco de empresas estrangeiras no Brasil não é uma coisa nova, sempre existiu.
“Antes, havia incerteza por conta dos altos níveis de inflação. Mas, com a estabilização da economia, na década de 1990, o país passou a receber mais investimentos.”
Um importante detalhe desse tipo de investimento, segundo ele, é a direção que a maioria dos recursos toma, geralmente para setores diretamente ligados a commodities, como o de mineração, agricultura, combustíveis e energia.
“O importante é conseguir diversificar esse leque, melhorar a qualidade do investimento que vem ao país e aplicar em áreas que claramente ainda temos debilidade.”
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BRICs
Dentre os países que fazem parte do bloco chamado BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China -, o Brasil, segundo especialistas ouvidos pelo G1, é o que está mais bem preparado para o alto fluxo de investimentos estrangeiros.
“Temos instituições fortalecidas, democracia, partidos políticos estabelecidos. Parecem coisas óbvias, mas, ao olhar para os outros países, vemos que não é bem assim”, diz Luís Afonso Lima.
“Em relação aos BRICs, o Brasil tem diversificação industrial, unificação cultural e lingüística e grande potencial agrícola e energético”, diz Lacerda.
Barreiras
No entanto, há ainda barreiras oferecidas pelo país aos investidores, citados tanto pelos especialistas como por executivos que trabalham nas empresas estrangeiras que aportaram no território brasileiro. O principal deles é a falta de infra-estrutura para logística.
“A nossa infra-estrutura está chegando na capacidade máxima e pode começar a segurar o crescimento”, diz José Fernandes, presidente da química norte-americana Rohm and Haas, que também cita a falta de mão-de-obra especializada.
Os chamados “fatores de competitividade sistêmica”, como câmbio, juros e carga tributária também foram citados como problema. “O câmbio impacta as empresas que são grandes exportadoras. É preciso buscar constantemente soluções para aumentar produtividade”, diz Fernandes.
Para Luís Afonso Lima, falta “fazer o dever de casa” na área regulatória. “As agências são recentes e ainda necessitam de amadurecimento, de consolidação das regras dos setores.”
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